18 de maio de 2014

Carta de um matuto para as autoridades


Brasil, 30 de junho de 2013.

Suas autoridades,

Nos últimos dias, tenho visto daqui, sentadinho no meu sofá de couro de boi, de frente para a tevê, que o país tá um emboléu.

É gente fechando estrada, é gente quebrando loja, invadindo prefeitura, caindo de viaduto, jogando pedra na polícia, tudo tudo para protestar contra um monte de coisas que estão erradas no nosso Brasil.

Eu não sou assim sabido que nem vocês, sou só mais um brasileiro que apenas quer ter uma vida simpres e digna. Confesso que não compreendo bem quando vocês falam com a gente pela tevê aquele monte de palavra difícil. Não sei o que vocês imagina quando começam a falar de uma tal de, acho que é sustentabilidade, de reforma disso, reforma daquilo, e de mais um punhado de palavra enrolada que eu nunca ouvi ninguém falar em canto nenhum por onde andei.

Pois sim! Apesar da minha ingnorança, eu prestei atenção direitinho quando vocês e mais um monte de jornalista e mais gente estudada começou a dizer que o problema é que ninguém, nem mesmo vocês de tanta inteligença, tava conseguindo entender o quê que o povo queria direito.

Que era um tal de pede isso, pede aquilo, que ia ser ruim para entender e, mais difícil ainda, pra atender.
Eu peço que vocês não me levem a mal, mas tem umas coisas que não têm o nome assim todo sarapintado — e que eu tenho certeza que o povo de tudo que é lugar, e qualquer pessoa já de mais idade, mesmo sem muita sabedoria e espertice, sabe que é preciso melhorar — que já seria um bom começo se vocês se aviasse pra consertar.

Esses negócios todo enredado, que precisa reunir um mundéu de gente importante, de políticos, professores, pra mode combinar; esse negócio de mudar as lei, talvez seja mesmo preciso pra conseguir botar as coisas no lugar, mas disso eu não posso falá porque é muito difícil pr’um sujeito como eu.

Então, suas autoridades, eu vou dizer com a minha simpricidade o que, eu tenho pra mim, já ia agradar meio mundo de gente, se vocês conseguisse fazer. Confesso que às vezes eu não entendo como uns homens assim que nem vocês não consegue entender essas bobage que um caipira quase analfabeto como eu até que compreendo.

Outras hora eu fico matutando, pensando que vocês se faz é de ajé. Mas, já que parece que vocês não têm tino pra essas coisas de gente pobre e necessitada, que, pra dizer a verdade — pra nós — só de vocês entender já seria o melhor presente de nosso senhor tão bondoso, eu vou tentar dar uma ajudinha.

Pra começar a dizer o que nós quer, vamos principiar pelo atendimento nos hospital e nos posto de saúde.

O povo não quer luxo não, só quer ser atendido sem ter que esperar três horas, três dias, três mês, e não ficar jogado no chão, com as pessoa mortas por dentro, vendo os parentes morrer, humilhados num canto sujo de parede; e que o médico examine a gente direito, porque tem vez que ele nem olha pra gente de tão avexado que tá.

Um lugar limpinho e um atendimento pra gente só morrer quando Deus chamar mesmo. Isso, eu acho que até os senhores querem, não é? Então vocês devem concordar comigo.

A gente quer também que as escolas sejam melhoradas. Que dê mais educação às pessoa. Mas pra valê, porque, pra vocês terem uma ideia, aqui perto de casa tem um rapaz que se formou faz uns dois anos, mas ele não tem emprego nem um pingo de educação; só vendo o estrupício! É mais analfabeto do que eu que só fiz uns estudos bem pouquim. Se eu tivesse tido oportunidade quem sabe eu não era sabido que nem vocês? Vixe, agora me deu uma dúvida! Mas tá! Continuando...

A gente tá muito aborrecido com esse monte de grade pra tudo que é canto. Até na farmácia a moça fica tremendo atrás duma treliça, tadinha, parece que tá numa cadeia, quando vem desconfiada atendê a gente.

Aí a gente passa o dinheiro pela grade e ela entrega o remédio.

Nessa arrumação, dia desses minha blusa engatou na grade e se rasgou novinha. Foi um prejuizão. Mas pelo menos eu voltei vivo pra casa, porque quando eu tava voltando, uns moleque malcriado me tomaram a minha carteira, o meu celular e até meus remédio; e, pior, ainda me chamaram de vagabundo, a pior humilhação pr’um homem já de idade como eu.

E isso só piora. Vocês acredita que já roubaram até um ladrão que mora na ponta da rua lá de casa? O negócio tem que mudar. É por isso que infelizmente a polícia tá matando mais que febre tifoide. Afinal, alguém tem que fazer alguma coisa.

E é injustiça por cima de injustiça. Dia desses eu vi no jornal que tem países diferentes, que as autoridade num tem tanta regalia.

Pra vocês é diferente, tem direito a casa de luxo, carro de primeira, gasolina, terno, assessor, passagem pra ir pra tudo que é lugar, e a mais um monte de catrevage. Dá de fazer uma poupança porreta, porque eu acho que o salário de vocês é enorme, nem parece minha aposentadoria mixuruca; e eu acredito que dá pra guardar todinho, porque vocês ganham de um tudo por conta do serviço de vocês.

Se um de nós roubar — que Deus o livre! — um alfinim, corre o risco de ir parar no presídio; já vocês, têm um tal de foro privilegiado, acho que é isso, que não deixa ninguém ser preso, nem que roube uma banda da lua. Eu acho isso errado. Acho que tem que acabar. A lei tem que tratar igual todas as pessoa.

Esse medo de levantarem falso de vocês é igual ao medo que qualquer um de nós tem. Mas quem acusar tem que provar, e é isso que importa.

Resumindo, suas autoridades, a pessoa que estiver em sala de aula, concentrada, estudando, não quer ter que conviver com bandidos passando por dentro da escola quando eles estão fazendo das suas; e, se, mesmo assim, acontecer alguma fatalidade cometida por esses pobre perdidos, a pessoa quer chegar no hospital, receber pronto-atendimento e ter maiores chances de uma boa recuperação. Depois, quer voltar tranquila pra casa, para continuar seus esforço de melhorar de vida e como pessoa, porque unindo nós todos na melhoração, vai ajudar o país a ser a cada dia um país melhor pra nós tudim viver.

Eu só quiria ver esse nosso Brasil virando um lugar bem desenvorvido, bem moderno, cheio de gente bem-apessoada — não assim de pouco saber feito eu; com as rua mais limpa, os transporte de primera, com uma justiça que prestasse, pra punir tudo que é cabra desavergonhado.

Duvido, suas autoridades, que se os homi de bem que tem nesse país — e no meio de vocês deve di ter arguns — parasse com esse conversa cumpriiida de defender tudo que é errado e começasse a trabaiá pra valê, pra fazer mais gente direita, e parasse di distruir um tempão com uns papangu qui só pode miorá se tivé pelo menos uma vez na vida oportunidade séria de virar homi direito, se isso não ia sarvar tanta gente do caminho do mal qui num ia dá nem de contar.

Vocês num sabe que tem uns cabra qui tem é zé, nem cum reza braba quere tê jeito? Esses pode intregar a Deus, porque, eles, só Nosso Senhor Todo Poderoso pode ajudar. E vocês tem que tá pronto a ajudar, se eles resolvê mudar. Só isso. Porque, se o sujeito num qué, eu já disse, é porque ele num qué, ora.

Tá vendo, suas autoridades, o que nós qué dá de contar nos dedo da mão, e num pricisa aquela compricação todinha, que parece as lei, que uma faz outra desmancha, uma vai pro céu, outra pro fundo do mar.

Se você acabarem com essas coisa errada, se fizerem isso por nós, eu prometo que nunca mais nós deixa de votá em vocês.

E quando eu for a Juazeiro visitar o Padim Ciço, num vô isquecê de pedir a ele e a Nosso Senhor que olhe com muito carinho pra vocês e pras suas familha.

Acina, com todo respeito que nós tem de tê com as autoridade, apenas mais um brasileiro com as esperança já quase faiando.


Um Brasileiro

2 Comentários
Comentários

2 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito, Mestre. Lembrei do meu velho e saudoso Pai com esses nomes como catrevage, emboléu...

Vinícius Lemarc disse...

Que bom saber que esses textos são capazes de trazer boas lembranças, coisas boas às pessoas.

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