Nas savanas e bosques africanos, lar
de muitos e perigosos animais, vivia um bando de hienas que, embora predador de
pequenas presas, ou de animais jovens e indefesos, costumava acompanhar um
grupo de leões, para aproveitar-lhes os restos das caçadas, que lhes ofertavam
desde deliciosas impalas a pescoços fresquinhos de girafas e gnus.
Ela guardava certo ar sensível e adorava
saracotear para as colegas, divertindo-as muito.
Gostava de fazer uma espécie de dança,
com movimentos para os lados, meneios de cabeça e bamboleios do murcho rabo;
girava sobre os pés como um pião, e, ao andar, chegava mesmo a ser um pouco
menos feia que as desajeitadas companheiras.
Quando o grupo parava para descansar,
ela riscava o chão com as patas, e criava desenhos que encantavam a todas as
hienas e, às vezes, um leão ou um cão selvagem que se aproximava.
Em sua jornada de sobrevivência, as
hienas e os leões já se haviam tornado velhos conhecidos.
Mas, como nem tudo são flores, mesmo
na sociedade dos bichos, sequer na sociedade das plantas, a hiena bailarina não
simpatizava nada com um velho e carrancudo leão, a quem via sempre sério e de
cara fechada, com jeito de quem não está para amigos.
Ele nunca ria de seus trejeitos,
ficava sempre reservado, ao contrário de seus colegas, que se divertiam com o
balé da hiena artista, perdida naquele cafundó.
Numa noite banhada por uma magnífica lua, enquanto os aventureiros procuravam alguma presa para devorar, a
hiena bailarina, que tinha o hábito de se separar um pouco da matilha para
explorar o mundo de modo especial, viu-se atacada impiedosamente por um grupo
de hienas de outra família, que não gostava nem um pouco dos hábitos estranhos
daquela criatura que difamava toda a espécie.
A pobre hiena até que tentou resistir
ao ataque fratricida, encontrando em si forças que nem bem sabia.
Ao ouvir o murmurinho, algumas colegas
de grupo até se aproximaram, mas nada fizeram para ajudar. Ficaram a assistir o
alvoroço, imóveis, parecendo mesmo torcer pelo pior para a pobre vítima da
emboscada.
Quando as forças da infausta
carniceira já se esvaíam, eis que irrompe, em fúria assombrosa, por entre as
folhagens, o leão rejeitado por ela, que, após violenta batalha, acaba por
tirá-la bravamente das garras agressoras, salvando-lhe a vida.
Esbaforida e tentando retratar-se com
o felino, a hiena agradece-lhe a atitude:
— Muito obrigada! O
senhor me ganhou!
O leão, estoico e calmo na reação, explica,
quebrando o costumeiro silêncio:
— Não era justo o que
vi. Sua própria espécie lhe atacando. E tudo por não concordar com o modo como leva a própria vida! Era apenas isso.
E, dando-lhe as costas, se afasta lentamente.
Um pouco adiante, se vira e conclui:
— Até que não acho de
todo mal as suas graças!
E desaparece entre os arbustos.
Moral: Não é a expressão que
conta, mas, sim, os valores e os atos.