9 de junho de 2011

Divisão do Pará: um corpo sem alma


Tenho ouvido muita coisa acerca da possível divisão do Estado do Pará, mas nada muito interessante, embora muito do que se diga sejam verdades irrecusáveis. A divisão do estado do Pará é muito mais
do que uma simples divisão geográfica, ou a manipulação do povo pelos detentores do capital. É a  separação cabal de uma alma cindida.


Se o povo paraense assinar essa petição, assinará a manifestação pública de que não projeta com sabedoria o próprio futuro, e de que se declara incapaz de unir-se em prol de um estado grande e igualitariamente desenvolvido. A luta é outra, pessoal, não é entre si. A luta também é contra os grupos mesquinhos que querem a todo custo apoderar-se mais e mais do poder econômico, às custas da miséria cultural, social e humana, a partir da presumida submissão de um povo despolitizado “na medida” por essas mesmas elites, mas, antes de tudo, é a luta pela identidade, a luta por um estado grande, e magnífico, forte e viável.

Em primeiro lugar, não existem razões antropológicas ou culturais que justifiquem esse “apartheid”. O Pará não é um mosaico com visões de mundo diferentes, ou qualquer coisa perto disso, ainda que apresente diferenciações brandas em certas áreas. É sim um povo só. Que deve lutar junto contra a inépcia dos governos, federal e locais, que sempre o colocaram longe da grandeza que tem, como rodapé do desenvolvimento nacional. O que se deve querer é a dignidade. Mas essa precisa vir de dentro. Emanar do povo. De um povo firme que não embarca em falsas promessas de aproveitadores que usam de um discurso falacioso para iludir as massas e obter ganhos individuais.

Há uma série de argumentos mais que corretos acerca do preço de uma possível divisão, sendo o mais citado, a questão do aumento da máquina pública, executiva, legislativa e judiciária, e da corrupção, o que pioraria essa endemia que assola o país.  O simples deslocamento do  centro do poder um pouco mais para o centro já ajudaria. Mas isso não é sequer necessário. É preciso apenas compromisso e seriedade dos gestores com TODO o estado. Para isso, os habitantes do nordeste do estado teriam que ceder em alguma coisa, mas, aí se podem obstar os medíocres interesses unicamente pessoais. A luta não é só das populações das áreas esquecidas,  deve ser uma questão moral de quem está próximo ao centro do poder para com as outras regiões do estado. Não há ética em simplesmente lutar para manter seus privilégios. É preciso ouvir com qualidade o que essas populações reclamam. Discutir soluções, e dar encaminhamentos. Se não se der ouvido para isso, essas populações passam a ter jus ao desejo separatista. Outro argumento, decorrente do anterior, é que a proximidade do centro do poder não garante qualidade de vida às populações. Exemplos abundam país e mundo afora. Quase sempre isso atrai violência, miséria, caos no trânsito, aceleramento da destruição dos recursos naturais, entre tantas outras mazelas, e os governos governam para poucos, ou para ninguém, ocupados que ficam em certas tarefas.

Alternativas há muitas, mas ninguém discute. Não se quer muito debate. Não é conveniente. Uma ideia simples, e um bom começo, para não adentrarmos coisas mais complexas, poderia ser criar-se um seminário, um fórum, ou, seja lá o que for, desde que reúna as pessoas certas  para discutir as coisas certas e o conceito de estado que se quer, seus problemas e seus caminhos. Algo que não se tornasse, como é comum, palco apenas para discursos e lucubrações  de cunho demagógico ou puramente teórico, para os políticos e os “intelectuais” sempre de plantão nessas coisas, para se ver no jornal, no palco... Um seminário com todos, inclusive o povo, suas lideranças, e suas visões aparentemente simples, mas calcadas na realidade que, juntos, eles conhecem melhor que qualquer um. Daí, necessariamente, deveria sair, no mínimo, uma carta-compromisso, a ser cumprida pelas autoridades, que recebem, por sinal, muito bem pra tal, e se candidataram por vontade própria. Eu disse, CUMPRIDA, não engavetada. E TODOS os paraenses deveriam exigir seu cumprimento. E o governo deveria viabilizar na internet e em outros meios para que todas as ações fossem acompanhadas pelo povo. Isso deveria ser constitucional: TODOS OS GOVERNANTES DEVERÃO PUBLICAR, COM DETALHES, SUAS AÇÕES DE GOVERNO E O USO DOS RECURSOS PÚBLICOS, PARA QUE QUALQUER CIDADÃO POSSA FISCALIZAR”. Essa sim é uma luta que interessa ao povo e não a “meia dúzia de gatos pingados”.

Essa história de estado muito grande para administrar não é honesta. Muitos países do mundo têm estados, ou equivalentes, enormes e pujantes, como o Canadá e os Estados Unidos. Ou seja, É preciso apenas administrar com visão e compromisso. E o Nosso entendimento de estado bem-sucedido precisa deixar de ser apenas o de um estado capaz de ter indústria e produção vigorosas, porém com cidades caóticas, afundadas em violência e descaso com a qualidade de vida das pessoas. O desenvolvimento não pode ser apenas asfalto, fumaça, invasões, crianças cheirando cola pelas calçadas. Temos que pensar grande, pensar em um estado e em um país decente, e conforme nossos anseios e especificidades. Nenhum cidadão decente pode abrir mão disso.

É isso. O que falta neste país é coragem para pensar e lutar por um país decente. Um povo organizado e com uma meta coletiva adiante. Veja-se o exemplo da maior potência mundial, em termos econômicos, científicos, tecnológicos, etc. etc., os norte-americanos. Só um completo imbecil nega a força interior com que eles conduziram e construíram sua história. Isso foi o que os colocou onde estão. Claro que sei também a respeito dos dantescos erros que cometeram, e que por sinal existem em todo lugar e em todas as pessoas abaixo do sol, mas isso não apaga os seus grandes feitos para construir uma grande nação. É só olhar em volta para constatar. Realmente é “coisa de cinema”. Não. É muito mais que isso. Cedo eles se agarraram a sua crença de serem grandes um dia, ao seu “destino manifesto”. E lutaram entre si, para descobrir, então, qual seu verdadeiro caminho, e encontrar-se com sua própria alma, e tornar-se os “Estados Unidos da América”. O Brasil, um país rico de nascimento, vive arrastando-se, loteado por interesses localizados, principalmente, nas áreas mais ao norte, historicamente dominadas por interesses coronelícios. No máximo, dividido em picuinhas e mesquinharias, estado zombando de estado, estado invejando estado, povo bajulando povo, poderíamos formar uma republiqueta de alcunha “Estados Desunidos do Brasil”.

Nenhum dos estados do Brasil precisa disso. Se for assim, se justificará dividir também o estado do Amazonas, o da Bahia, o de Minas Gerais e até mesmo o país, que é grande demais e  muito mais cheio de discrepâncias, portanto, “difícil demais de governar”. Balela de quem propõe esse tipo de coisa.

Os separatistas devem apresentar à opinião pública, dados claros sobre seus prejuízos e, através de seus líderes (prefeitos, vereadores...), exigir as melhorias necessárias, junto aos instâncias superiores. Não abster-se de suas responsabilidades, jogando a culpa apenas nos governos superiores, para, auferir lucros e locupletar-se, a partir da montagem de todo um aparelho administrativo desnecessário, e unindo-se a exploradores que desdenham das populações locais. Uma coisa que o povo dessas localidades deve saber é que em parte alguma do estado sequer os serviços essenciais têm a qualidade desejável. Não há em nenhum canto do estado educação, saúde, enfim, serviços públicos com alto padrão para a população. E isso não vai mudar, se o povo sempre servir de massa de manobra para os hábeis sofistas. Que se tenha  a certeza de que, se não se mexer nas bases, a vida do povo sofrido continuará sendo a penúria e o abandono, com ou sem divisão.

Talvez as populações dessas regiões estejam apenas tentando devolver a revolta acumulada de anos de abandono, providenciando um novo Pará, com simbólicos 17% do seu território original, aquela fração que nunca se importou como deveria com as populações mais distantes do centro. Muita atenção! A Amazônia está na pauta do interesse mundial, e a história prova que quando um povo sequer consegue ser unido, ter uma alma, fica muito mais fácil subjugá-lo, pela força ou pelas ideias.

O Pará não deve se dividir, mas resistir e lutar para ser um estado grande e respeitado. Ele não pode ter seu destino decidido a milhas de distância por um grupo de espertalhões. É por isso que se deve lutar, com a força de um povo forte e consciente.

Subscrever essa  divisão é, para o povo paraense, declarar-se apático e manobrável.

Uni-vos! Lutai por dignidade, para que sejais grande de verdade!



Aqui, o link para um vídeo que circula na net. Veja e tire suas conclusões.


 Se nada for feito agora, veja uma aproximação de como o Brasil pode ficar:

6 Comentários
Comentários

6 comentários:

Aline Boin disse...

Oi Lemarc... estou adorando seu espaço, muito criativo e cheio de conteúdo.
Parabéns... tenha uma linda semana!!!

Beijos Aline

Vinícius Lemarc disse...

Oi, Aline!
Muito obrigado pelos elogios. Nos esforçamos para oferecer reflexão equilibrada, sem paixões partidárias, ou fincadas em orientações políticas restritas. Esperamos estar alcançando o objetivo. Isso, além de manter o espaço diversificado.
Um grande abraço!
LeMarc

Lussilva disse...

Adorei os textos!!! O espaço está ótimo, realmente! Vou frequentar... Bjs!!!

Vinícius Lemarc disse...

Olá, Lu, permita-me!

Muito obrigado pelo elogio. Nosso desejo é construir um espaço de boa qualidade, e vocês que participam com a gente, aqui, via e-mail, etc. têm recebido o Sarrabulhada Cult muito positivamente. Isso aumenta nossa responsabilidade em oferecer sempre material de qualidade.
Um grande abraço!

LeMarc

Siplan - Software de impantação de plano de negocios disse...

vocÊ diz: "é a luta pela identidade, a luta por um estado grande", não seu "livro todo", nem vou, ma se vc e paraense, sabe que não existe identidade aqui, eu sou do interior do estado moro na capital a 2 anos, onde chego perguntal se eu sou paraense, e me descriminão por meus gostos e cultura serem diferentes do pessoal daqui, então não seja mais um palestrante de palesras vazia, e não fale do que não sabe....

Vinícius Lemarc disse...

À Belém Artesanatos:

Obrigado pelo comentário. Essa questão da divisão é bem complicada e envolve interesses d tudo quanto é lado, mas, entendo que, no mínimo, há muitas falhas na proposta da divisão. Só gostaria de deixar claro que não tenho qualquer interesse que não seja estritamente humano. Se tiver que dividir para melhorar, tudo bem, mas não há um projeto realmente consistente por parte de nenhum dos lados. E posso afirmar que, se for para deixar o povo do interior esquecido, à míngua, que se faça até a divisão , se necessária. Acontece que nas áreas onde se quer divisão os políticos (lá tem prefeitos, vereadores, etc.) não fazem tudo que é necessário pelo povo e se aproveitam para propor uma solução defeituosa. Outra coisa: qual é o modelo de gestão que essa turma propõe?

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