19 de janeiro de 2011

Da natureza do Swing

Esses dias, vi um “artigo” na internet, em um desses sites provedores de e-mail, sobre a prática do swing, postado por uma jovem colunista - duplamente jovem. Nos anos, e como colunista do site - e resolvi fazer este breve post, para tentar acrescentar algo nessa difícil discussão. Falo acrescentar, não como se falasse de uma incrível descoberta, mas, talvez, como a jogar lenha numa fogueira já grande, mas que, ainda assim, se vê envolta pelo desprezo radicalista e cego de muitos, de um lado, e, alimentada pela incauta visão simplista de outros tantos, como a da tenra redatora.


Esse post eu não pensava fazer, até porque parece destoar um pouco das minhas ideias pro blog, mas, enfim, achei que não faria mal em discutir um pouco algo quase sempre mal discutido; além disso, isto é mesmo um sarapatel por origem, e ele vai cair mesmo nas generalidades...

Uma primeira dificuldade talvez seja o fato de eu optar por não oferecer aqui o link para o texto citado, o que tira a base de comparação do leitor. Entretanto, posso afirmar que o texto em questão tem o grave defeito de ser apológético, não uma discussão consistente acerca do tema. Coisa modernamente superficial, desatenta e de visão extremamente limitada. Pena que eu também não o aprofunde aqui como seria bom, mas, apesar da pressa, espero, pelo menos, dar as pistas corretas. Outra coisa,  é que também é algo relativamente fácil encontrar o texto na internet.

Quando vemos certos textos circulando livremente na grande mídia, uma primeira questão que se põe é a velha discussão sobre o poder desta em disseminar valores e práticas a pessoas em sua maioria pouco preparadas para avaliar com qualidade os aspectos que envolvem as questões colocadas. Parece-me mesmo uma grande irresponsabilidade, e falta de compromisso, por parte da mídia instituída, oferecer material de pobreza de dar inveja a qualquer franciscano, sobretudo sugerindo que as pessoas ajam assim ou assado. Enfim, esse é um problema de difícil solução, ademais com a, muitas vezes hipócrita, defesa irrestrita da imprensa livre, como se houvesse imparcialidade por parte dos meios de comunicação de massa. Eles sabem que uma mentira repetida à exaustão acaba passando por verdade, à grande massa.

Bem, passemos a uma rápida análise do problema em si. Como sugeri acima, não se pode fazer vista grossa, fazer de conta que tal prática não existe, que é pecado falar de tal ignomínia. Não. É preciso buscar ver as coisas com o distanciamento necessário.

A constatação fácil de que o sexo é parte da vida em geral, nos obriga a trazer o assunto à pauta, porque sexo é algo que está diretamente ligado à sobrevivência das espécies. Portanto, uma primeira conclusão básica é a da sua necessidade, o que, para muitos, o torna algo divino, criado naturalmente por Deus, ou, para alguns, pela própria natureza, numa ótica puramente biológica ou até panteísta. Ora, se a origem do incitador é dessa natureza, em princípio, não poderá ser recriminado ou rotulado como “pecado”. Uma visão interessante, e, de certo modo, corroborativa do que falo, é a do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, quando trata do amor, em seu célebre “O mundo como vontade e representação”.  Para o filósofo, o amor esta a serviço do nosso instinto natural para o sexo, e, consequentemente, da perpetuação da espécie. Todos os descaminhos e estratagemas do amor têm apenas esse objetivo último. Modernamente, entretanto, as coisas parecem não ser mais tão claras.

Daí, voltamos a uma questão central, pouco compreendida, ao contrário do quanto é propalada: o que é amor? Gostaria de entrar nessas discussões mais densas, mas aqui já basta, por ora. O fato é que amor, lembrando um pouco Platão, é algo mais para abstrato, uma sensação, um conceito, que propriamente um conjunto de atos. Porém, curiosamente, um conjunto de atos se assenta, ou pode, nesse sentimento, que jamais é superficial. Aí uma grande dificuldade. As pessoas não conseguimos lidar, e isso piora a cada dia, com as camadas várias que recobrem as coisas em geral, e que vão do mais ao menos fútil. A cada dia nos tornamos mais superficiais. E a melhor forma para aferirmos isso é pela observação dos nossos atos. No mínimo curioso.

Se amor é algo que exige de nós grande reflexão, porque nos recobre por completo, e se trata, assim, de algo tão complexo em sua essência, divino porque humano, e portanto sublime, não podemos, de modo algum crer que uma sessão de “swing”, e congêneres, pode sequer mirar o pedestal em que aquele se encontra. Por outro lado, embora contenha infrações ao que nos parecem as regras naturais, uma relação homossexual, por exemplo, pode sim ser sublime, porque alcançada pelo amor, se entendido este além de uma concepção schopenhaueriana. A questão que fica, central, é até que ponto as pessoas devemos nos diminuir, nos entregando às superficialidades, ou nos adensarmos, para construirmos um mundo mais interessante.

Talvez, para muita gente, a concepção pós-moderna de mundo, ou a modernidade líquida, seja a melhor alternativa. Essa visão tem origem provavelmente no Iluminismo, que nos alçou a ver a liberdade como o maior de todos os bens. Sem maiores considerações, concordo que talvez a liberdade seja mesmo o maior bem, mas não autossuficiente. E seu conceito é algo complexo, não algo malversado e adaptado às diversas conveniências pontuais.

De qualquer modo, escolher deve ser prerrogativa do homem. Essa capacidade de vontade não pode ser negada sequer pelos religiosos mais radicais, porque não se sustenta. Deus permitiu ao homem escolher ir ou não para o céu. Deus nunca foi mesquinho.

Enfim, uma atividade, ou prática, como essa, em suas condições reais, tem ainda muitos senões a adir: a degeneração pessoal, física e mental, que a promiscuidade gera, risco aumentado de infecções várias, como AIDS, sífilis, mesmo com os cuidados nunca categoricamente suficientes, o retorno “consciente” a um animalismo contrário à evolução humana, o convívio em ambientes, por vezes, insalubres e imundos, o colocar alguém que você ama, ou deveria amar, em um contexto degenerador, o contato extremamente íntimo, muitas vezes aleatório, com pessoas supostas. Há ainda o risco de certo envolvimento, de ser enganado por casais formados às pressas apenas pra se divertir às custas de “manés” incautos, etc, etc.

Se a pessoa não se importa com praticamente nada, mesmo que lhe pisem os pés, que lhe cuspam a cara, se só a liberdade irrestrita conta, acho que não há nada a objetar. Mas é que ninguém deve conhecer em lugar algum alguém assim.

Eu penso que melhor mesmo é que aprendamos a amar com qualidade. Amar dos diversos tipos de amor, e num deles, o sexo tem cadeira cativa e pode se vivido sim com alta qualidade, contextualizado, porque jamais o será numa espécie de limbo, num vazio em que compreendemos que as coisas são todas desintegradas e se nos apresentam como fragmentos que jamais ousamos emendar.

A vida é um quebra-cabeças com peças a perder de vista, imontável completamente é bem verdade, porque nele as peças aceitam muitas combinações, e é preciso fazer as melhores opções para que se obtenham resultados consistentes. Assim, precisamos sempre melhorar a nós mesmos e auxiliar para melhorar o outro. E isso quase sempre não sabemos fazer, principalmente na situação objetiva de um relacionamento que envolve sexo e, talvez, amor.


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