Cripple Creek Bar Room
A primeira cena western
O filme western nasceu praticamente junto com o cinema. Com Cripple Creek Bar Room e Poker at Dawson City, ambas de 1899, surgem as primeiras cenas westernianas de que se tem notícia. Foram “protagonizadas” pela companhia de Thomas Edison e têm cerca de 3 minutos de duração. Entretanto, é com The Great Train Robbery/1903 (O grande roubo do trem), de Edwin S. Porter, que o gênero, e mesmo o cinema, consegue considerável avanço na estrutura narrativa e na técnica de montagem. Com cerca de 10 minutos, diferencia-se de pronto das primeiras imagens do gênero por apresentar cenas externas, em locações, recurso largamente utilizado pelo gênero e que teve como grande cultor o, para muitos, maior diretor de westerns, e diretor mais premiado da história do Oscar, com quatro prêmios, John Ford. Tornando-se atualmente lugar comum no cinema, hoje é bem mais fácil fazer-se filmagens em locações, mas, nos primeiros tempos do cinema, esse foi um de seus grandes desafios.
Em 1910, surgem o primeiro herói e o primeiro astro do cinema, com o filme Broncho Billy’s Redemption, estrelado por Gilbert M. Anderson, que havia participado de The Great Train Robbery. Detalhe é que, como o filme fora baseado em um livro de um autor de nome Peter B. Kyne, Anderson tornou-se, também, o primeiro a pagar direitos autorais da adaptação no cinema, para o autor da história.
Dentro de pouco tempo, o western tornou-se o gênero mais popular do cinema. Começaram a surgir, então, inúmeros atores, escritores especializados em velho oeste, que não custaram a começar a contar histórias de personagens míticas do oeste real, como Buffalo Bill, Wyatt Earp, Doc Holliday, Billy the Kid, entre tantos outros.
É nessa época que surge um gênio do cinema, considerado por muitos o pai da linguagem cinematográfica: David W. Griffith. Outro nome de peso da época é Thomas Ince. Ambos deram ênfase à presença de índios nos filmes, inclusive índios reais, mas a grande contribuição de Griffith é quanto à técnica. Ele desenvolveu a técnica cinematográfica, criando os aspectos principais que até hoje constituem o cerne dessa linguagem, como o recurso de montagem, os cortes, o uso dramático dos planos, os flashbacks, os traveling’s, etc. Ince, por sua vez, foi responsável, sobretudo, pela organização e planejamento das produções. Inaugurou, por exemplo, o hábito de fazer um roteiro, no qual descrevia, com minúcias, detalhes de cenário, de movimentos de câmera, etc. Essa prática tinha, entre outros, o objetivo de controlar as despesas, inclusive por reduzir o tempo das filmagens.
Os filmes de Broncho Billy centravam-se na ação e não representavam o autêntico homem do oeste. Assim, o western só começa a caminhar para certa maturidade em meados da segunda década, quando surgem diretores como Cecil B. de Mille, que então já demonstrava gosto pelo épico, e William S. Hart, que deu certa consistência ao gênero. De Mille estreia no gênero em 1914, com The Squaw Man (Amor de Índio) e Hart, em busca da autenticidade do velho oeste, oferece-nos aquele que é considerado o primeiro western adulto: Hell’s Hinges/1916 (Terra do Inferno).
William S. Hart, que ao chegar a Hollywood associara-se a Thomas Ince, foi responsável por elevar o western artisticamente e consolidar-lhe o sucesso comercial, inclusive exportando-o para a Europa. Hart abandonou os filmes curtos, de cerca de 10, 20 minutos, voltando-se para a produção de longas, o que certamente beneficiou a execução de sua visão austera do oeste. Uma curiosidade para os amantes do western é saber que ele foi o primeiro criador a batizar o cavalo do mocinho no gênero, Fritz, um recurso largamente utilizado pelos western’s B.
Se Hart iniciou a prática do batismo animal, outros, como Tom Mix, encarregaram-se de avacalhar a prática. Em 1918, Tom Mix, assina com a 20th Century-Fox e cria um estilo de western fantasioso, cheio de exageros e capaz de cativar pessoas de todas as idades. Seus westerns eram cheios de ação e evitavam claramente o uso indiscriminado da violência, em favor do espetáculo e da diversão. Com essa receita, Tom Mix tomou o trono de senhor do western de Willian S. Hart.
Como herança dos estilos de Hart e Tom Mix, o western dividiu-se definitivamente em duas categorias, o western A, herdeiro de Hart, e o western B, herdeiro de Tom Mix, com uma multidão de sequazes, como Buck Jones, Fred Thomson, Ken Maynard, Tim McCoy e até o famoso cachorro Rin-tin-tin. Em 1918 surge o primeiro seriado western, Hands Up (O Cavaleiro Fantasma), que seria área fértil e exaustivamente explorada pela indústria. Assim, ao lado dos programas duplos, em que se exibiam filmes B, antes da atração principal, um filme A, apareceram as matinês recheadas de western, que serviam, sobretudo na década de 30, ao escapismo americano pós-depressão.
A década de vinte assistiu a dois acontecimentos grandiosos para o cinema, a utilização do som na sétima arte, a partir de 1927, com The Jazz Singer, e, ao lado de figuras de nomeada como Henry King, Gary Cooper, etc., o surgimento de John Ford.
A chegada do som no cinema trouxe enormes desafios para o filme western, uma vez que ele era preferencialmente rodado em locações, e também porque não contava com atores e textos bons para fala, segundo criam os estúdios. Mesmo Chaplin, que se aventurou no western em 1925, com The Gold Rush (Em busca do ouro), teve muitas dificuldades em fazer essa transição. Bem, foi um período difícil para o western, que, inclusive, deixou o westerniano convicto John Ford, por mais de uma década longe do gênero.
Nessa década, surgiram ainda as primeiras superproduções épicas do gênero, com The Covered Wagon/1923 (Os Bandeirantes), de James Cruze e The Iron Horse/1924 (O Cavalo de Ferro), de John Ford. As histórias do Velho Oeste passaram então a perpassar forte carga ideológica do destino e dos ideais americanos. O problema do som no western seria enfim solucionado em 1929 por Raoul Walsh e Irving Cummings, com In old Arizona (No Velho Arizona), apresentando toda a beleza dos sibilos e sons da natureza, e o barulho pomposo dos galopes e das grandes explosões.
Os anos 30, como dissemos, foram de grandes dificuldades, mas eles ofereceram o tímido aparecimento, no western épico sonoro The Big Trail (A Grande Jornada), daquele que viria a ser considerado o maior entre todos os cowboys das telas, John Wayne. Assim como de nosso Roberto Carlos, ou até de Pelé, há quem não goste do seu trabalho, mas não há como negarmos que Marion Michael Morrison, John Wayne, ou simplesmente “Duke”, foi e é, sem dúvida, o maior entre todos os cowboys do cinema.
Assim é que, nessa década, o filme B tornou-se a seara, e a tábua de salvação, para a indústria, que passava por sérias dificuldades financeiras. Mas, como a redimir-se da trinca, o final da década, 1939, assistiu à união das duas futuras lendas do western, John Ford e Jonh Wayne, que se tornaria um divisor de águas no gênero. E pela primeira vez a crítica se curvava de fato diante de um western. Nascia Stagecoach (No Tempo das Diligências). Mas isso é história para o próximo post. Até lá!