26 de abril de 2012

O Filme Western: um pouco de história - parte 5



¡Hola, forasteiros!
Finalmente estamos retomando nossa breve história do gênero western. Como falamos, ao tratar dos anos 30 e 40, o western já havia alcançado um nível de aprimoramento muito significativo quando se embrenhou pela segunda metade do século passado. Temas novos se haviam incorporado a ele, e seu nível de reconhecimento ultrapassava as fronteiras do território americano. Nos anos da primeira década que se seguiu, o gênero chegou a um nível de apuro formal e conceptual extraordinário, e, então, se produziram filmes obrigatórios a qualquer cinéfilo. É desses anos memoráveis que iremos tratar, a partir de agora.



Pursued: precursor do psicologismo no western
A mitologia western ganha novos ares na Europa




Pois bem! Os anos 50 foram profícuos para o cinema americano, especialmente para o gênero western. Esse período constitui o que podemos chamar de “os anos de ouro” do gênero. Embora não seja o principal motivo, e o western já fosse velho conhecido na Europa, a produção desse período serviu para aprofundar o sentimento de admiração pelo gênero em todo o mundo. No velho continente, criou uma tão ebuliente atmosfera que assustou o mundo e os próprios americanos, poucos anos depois, nos anos 60, com o lançamento, em especial pela Itália, da versão europeia para a mitologia do oeste. Era a única etapa que faltava para cabalmente provar-se, ou perceber-se, que o filme western era universal; e mais que isso, que ele, embora notadamente popular, poderia agradar a qualquer plateia. Era sim um filme ímpar, capaz de uma façanha nunca alcançada pelos medalhões do “cinema cabeça”: agradar a um público pouco exigente, sem deixar de ser extremamente sofisticado e encantar gente de gosto requintado. Prova disso são casos como a paixão de Truffaut, aquele da Nouvelle Vague, por Johnny Guitar, de 1954, ou, quem sabe, o exemplo moderno de Quentim Tarantino, cultuado por cinéfilos de todo o mundo, admirado por críticos e gente do meio, e que admitiu em bom som ser fortemente influenciado por filmes do gênero, especialmente os da versão europeia. Obviamente, o leitor não pode concluir por conta disso que todos os filmes western sejam de qualidade. Como tudo, tem altos e baixos de toda sorte.

Johnny Guitar: a mulher como protagonista

Django Unchained: até  agora, a maior homenagem
de Tarantino ao seu querido western europeu


A produção da década de 50 se caracteriza basicamente por ter firmado o western como um tipo de filme que passava a olhar com mais atenção para o homem; que não narrava apenas os acontecimentos e todo o desenrolar da ação, mas que se preocupava com discutir mais a fundo as raízes da violência e do comportamento humano, tanto de um ponto de vista individual, do universo psicológico do westerner, como sob a ótica dos grupos sociais. Esse foi um período não apenas de amadurecimento, mas de muitas melhorias em termos técnicos. Os diretores passaram a dar preferência às filmagens em locação, para acentuar a beleza e o realismo das situações, tudo auxiliado pela exuberância das cores que se firmava, e pela adoção das imagens widescreen, com o uso de sistemas como o CinemaScope. Essa tendência foi, por assim dizer, predominante e tem como seu maior representante o diretor Anthony Mann. Entretanto, é forçoso registrar que a tendência anterior, do western clássico, que apresentava a mitologia do oeste de uma forma glamourosa, em que ficava muito clara a luta entre o bem e o mal, entre o homem branco e os “selvagens indígenas”, etc. não foi de todo abandonada, e prosseguiu, convivendo e rivalizando com a nova tendência, a que acusava de desvirtuar o verdadeiro filme western. Assim é que, embora nem todos concordem, sobretudo com o primeiro caso, dentro da antiga fórmula, ainda sugiram filmes maravilhosos, como Shane, de 1953, ou Rio Bravo, de 1959.

Tom Horn: o western caminha para um tipo
de negativismo que desagrada o público americano


Rio Bravo: uma resposta dura a High Noon












Quanto a essa querela, entre os que viam e os que não viam com bons olhos as mudanças que se operavam no gênero, acredito que há duas formas possíveis de a compreender: a) – de fato, as mudanças, iniciaram a decadência do gênero, que, aprofundada em anos posteriores, em filmes nebulosos como Tom Horn/1980, de William Wiard, decretariam a derrocada do mesmo; ou b) – na verdade, conseguiram dar algum fôlego a mais ao gênero, que já se encontrava desgastado, e com as histórias praticamente esgotadas. Penso que a segunda opção é a mais condizente com os fatos. Todo o psicologismo e o enriquecimento da abordagem pós anos 50 no western de linha americana foram uma necessidade, pois a sociedade avançava com muita velocidade, se afastando da velha configuração da realidade e do ideário que constituía o gênero. Com a industrialização vertiginosa e o enfraquecimento do modelo rural em favor do urbano, instauravam-se e exigiam-se novos modelos de relação, surgiam novas necessidades de representar e pensar a realidade imediata, e o western já não conseguia responder satisfatoriamente a essas exigências; suas histórias tornaram-se, pois, obsoletas e deslocadas, enquanto instrumentos de representação e de reflexão dos novos tempos e anseios.



Open Range: a prova de que o western não morreu, continua vigoroso
Mas, para a alegria dos amantes do gênero (tristeza para alguns), quando essa mesma tendência começava a se esgotar, e já não se esperava mais muita coisa do mesmo, surgiu na Europa um novo tipo de filme no gênero, que, embora tenha sido sempre muito criticado pelos amante do western, digamos, genuíno, fez-lhe pelo menos dois enormes favores. Claro que ninguém que segue o circuito pelo lado de cima admite facilmente isso, mas aceitar ou não essa constatação não altera os fatos. O primeiro dos favores foi o de fazer uma nova e criativa leitura do gênero, dando-lhe uma sobrevida de pelo menos 15 anos; o segundo foi o de permitir que, outra vez, o western americano se “reformulasse”, a partir da assimilação de elementos do western europeu, criando o novo modelo de western americano, que resiste, mesmo a duras penas, até hoje. Filmes que comprovam essa tese são muitos, e extraordinários. Só para citar alguns, temos The Wild Bunch/1969 (Meu ódio será sua herança), Jeremiah Johnson/1972 (Mais forte que a vingança), Unforgiven/1992 (Os Imperdoáveis) e outros Westerns de Clint Eastwood em sua fase pós-europeia, Open Range (2003), etc. Sem dúvida, os americanos não gostaram de ver seu gênero mais característico nas mãos do “inimigo” e iniciaram uma disputa com ele, acabando por fazer filmes maravilhosos.  Os amantes do gênero, por sinal, no fim de contas, acabaram por adorar a briga.



Vera Cruz: Lancaster cria um novo herói no western

Anthony Mann
Entretanto, não se deve deixar de considerar que, se o western europeu ajudou no desenvolvimento de um novo modelo, ele próprio nascera influenciado muito especialmente pelo western dos anos precedentes. Filmes como Pursued/1947 (Sua Única Saída), ou Gun Fury/1953 (Irmãos Inimigos), de Raoul Walsh, os filmes do ciclo Anthony Man, ou, sobretudo, a influência incontestável do brilhante Vera Cruz (1954), de Aldrich, são bastante relevantes.



Gene Autry: cowboy cantor


Bonanza: na TV, a família é o herói











Já, quanto ao western B, nos anos 50, podemos dizer que, com os impactos econômicos e sociais do pós-guerra e com o desenvolvimento tecnológico e a consequente afirmação da televisão, ele praticamente migrou para o novo e cômodo veículo. Atores como William Boyd e Gene Autry transferiram-se para a TV, protagonizando séries, como “Hopalong Cassidy” (1949-51) e “The Gene Autry Show” (1950-56), respectivamente. O sucesso alcançado na adaptação e na transferência dos filmes do cinema para a televisão levou esta a iniciar suas próprias séries, sendo muito bem sucedida em produções como The Cisco Kid, a primeira série em cores, da TV (1950 a 1956), Bonanza (1959-73), The High Chaparral (1967-71). Surgia, então, um filão e uma prática que se desenvolveu ao longo dos anos, e até hoje é muito utilizada nos Estados Unidos, (e em todo o mundo) tanto para histórias western como para histórias não-western.  Assim, o western na TV seguiu sempre fazendo muito sucesso com séries como Maverick (1957 a 1962), Daniel Boone (1964-70), até chegar, embora menos esfaimadas, às minisséries moderníssimas, como o êxito Lonesome Dove/1989, do diretor australiano Simon Wincer, Into the West/2005, produzida por Steven Spielberg, ou ainda a magnífica série, criminosamente inacabada, Deadwood (2004-06), da HBO.



Audie Murphy, o "cowboy" mais condecorado da 2ª guerra

Randoph Scott: assíduo no gênero















No parágrafo acima, eu disse “praticamente” ao me referir a uma espécie de transferência do western B para a TV. Explico-me agora. É que, com a ameaça crescente da televisão, os estúdios cinematográficos tiveram que fazer frente ao inimigo. Assim, com a referida “transferência” em curso, os executivos decidiram investir num novo tipo de western, a que podemos chamar “Novo Western B”, que tinha, entre outras vantagens, o fato de ser quase sempre colorido, diferentemente dos comumente exibidos na TV. Eram filmes com uma duração de cerca de 90 minutos, e que eram claramente como antigos B, mas bastante melhorados, com histórias um pouco mais sofisticadas, abandonando velhos clichês, mas mantendo o gosto pela ação, e com atores geralmente melhores que os de um autêntico B. Do grupo de atores que participou desses filmes, ainda hoje, muitos são admirados e cultuados em todo o mundo. Entre esses, destaco dois que todo westernmaníaco conhece e provavelmente admira. Na ordem, Randolph Scott, o eterno cowboy, que fez mais de 60 filmes do gênero, boa parte deles podendo ser enquadrada como Novo Western B, inclusive os dos anos 50, (Rage at Dawn/1955, Decision at Sundown/1957, etc.), com seu excelente parceiro Budd Boetticher; o outro, Audie Murphy, o baixinho meio galã, que, chegando da segunda guerra como o soldado mais condecorado do conflito, logo embarcou, aproveitando-se da fama, no mundo da ficção. Entre seus mais de 30 filmes western, podemos destacar Ride Clear of Diablo/1954 (Traição Cruel) e No Name on the Bullet/1959 (Balas que não erram). Outros nomes de destaque são Joel McCrea, Rory Calhoun, Guy Madison e até alguns velhos conhecidos como Roy Rogers.


Uma curiosidade que podemos observar nesse período é que, embora o Technicolor já estivesse bastante acessível, muitos diretores ainda optaram - e isso nunca deixou de ser feito no cinema; vejam-se filmes como Raging Bull/1980 (Touro Indomável), de Scorsese, ou em Schindler’s List/1993 (A Lista de Schindler) - por fazer uso do preto e branco. Alguns dos melhores filmes do gênero, e em especial dessa década, podem ser apontados, como The Gunfighter/1950 (O Matador), Winchester 73/1950, de Anthony Mann, ou High Noon/1952 (Matar ou Morrer), com o astro Gary Cooper.

James Stewart em The Man from Laramie
Como já dissemos, nos anos 50, o western procurou enfocar o homem, ou seja, buscou compreender esse homem de modo mais realista, com suas angústias e incertezas, de maneira que diferia bastante do modelo clássico de herói, aquele sempre muito seguro de seu papel e que pouco ou nada questionava quanto a sua função dentro da sociedade. Essa tendência recebeu do crítico de cinema francês André Bazin o título de Superwestern. Um western brilhante que mostra muito claramente essa virada é High Noon.  Entretanto, a contribuição mais importante para a consolidação do novo modelo parece ter sido a produção de Anthony Mann, que dada sua extensão e qualidade, é quem melhor representa esse período. Durante o breve período de dez anos, Anthony Mann dirigiu 10 westerns, dos quais cinco foram realizados em parceria com o ator “queridinho da América”, James Stewart, entre eles Winchester 73, The Naked Spur/1953 (O Preço de um Homem) e The Man From Laramie/1955 (Um certo Capitão Lockhart).

Dos westerns que Mann rodou no período, Winchester 73, além de inaugurar a parceria, parece ser o melhor. O filme trata da perseguição implacável de Lin McAdams ao homem que faz parte do seu passado e que matara seu pai. Após encontrá-lo em Dodge City e disputar contra ele um torneio que oferecia ao vencedor um exemplar fora de série de um winchester, Lin vence a disputa, mas tem a arma roubada pelo inimigo. A partir daí, Lin passa a ter duas pistas a seguir: a do rival e a do rifle. Uma das coisas que mais chamam a atenção nesse filme é a forma como o fluxo da história entrelaça com muita sagacidade a trajetória do rifle, o caminho percorrido por Lin e aquele feito por seu arquirrival.

Felicia Farr dando uma de difícil pra cima do "galante e pouco sanguinário" Glenn Ford

Outro nome muito interessante do período, mas que não chega a gozar de toda a distinção que merece é Delmer Daves. O talentoso diretor dirigiu um ciclo western muito interessante, no qual destacam-se 3:10 to Yuma/1957 (Galante e Sanguinário) e The Last Wagon/1956 (A Última Carroça). O western de Daves apresenta uma estrutura clássica e um acurado nível de fidelidade aos motivos do velho oeste. Entretanto, o brilho de sua contribuição decorre da sua enorme capacidade para a condução narrativa e para a construção das personagens. O apuro formal e o senso de equilíbrio na construção das situações fazem dele, sem dúvida, um dos maiores nomes do gênero no período.

Delmer Daves,
um contador de histórias
Seven Men From Now: um western primoroso













Como disse àlgumas linhas acima, a parceria entre o diretor Budd Boetticher e o ator veterano em westerns Randolph Scott também resultou em filmes interessantes e, por que não dizer, obrigatórios a quem deseja conhecer o gênero. Embora bons filmes, infelizmente, não chegam a ter toda a densidade que se espera de um filme desse período. Destes, o maior me parece o excelente Seven Men from Now/1956 (Sete homens sem destino), o primeiro da parceria que rendeu sete dos doze westerns que o diretor fez na década.

John Wayne revirando Monument Valley, à procura da sobrinha e de seus raptores
Diretores veteranos como John Ford e Howard Hawks também dirigiram westerns nesses anos. E como é de se esperar, dois - para alguns, os melhores western da década - tiveram os mestres comandando John Wayne: The Searchers/1956 (Rastros de Ódio) e o clássico Rio Bravo (Onde Começa o Inferno), respectivamente.

Como se percebe, são muitos os nomes e filmes a citar, portanto, doravante comentarei de modo rápido, para o amigo leitor, sobretudo o iniciante, quase que numa espécie de roteiro a seguir, os filmes que normalmente são considerados os melhores desses anos maravilhosos do cinema e do western. Em seguida, citarei outros títulos, mas sem comentários, apenas para indicar o quanto se produziu de bom no período.

1. High Noon (Matar ou Morrer): trata-se de um thriller em tempo real, em que a cronologia dos acontecimentos corresponde ao tempo exato da ação. Conta a história de um xerife abandonado à própria sorte pela população que protege. É um filme espetacular e politizado, mas o que chama atenção ao bom cinéfilo é a angústia do herói, totalmente humanizado, que prefere enfrentar sozinho seu destino a ceder a sua própria fragilidade. Poderia figurar nas listas dos críticos como o maior em todos os tempos, mas dada sua carga política e ideológica, e ao fato de o herói não ser nenhum Superman, obviamente seria improvável que os americanos o colocassem nesse posto.

O narrador de Shane em foto "inspirada" em Rin-tin-tin
2. Shane (Os Brutos Também Amam): Western clássico considerado um dos melhores de todos os tempos. É a história do conflito entre pequenos proprietários de terra e grandes fazendeiros do Wyoming, no final do século XIX. Shane é o pistoleiro que surge do horizonte para defender os colonos, mas age sem qualquer interesse econômico, apenas repetindo impassível uma luta a qual já está de há muito habituado.

3. Johnny Guitar: Clássico de Nicholas Ray. Um western que coloca como protagonistas duas mulheres, que se enfrentam com ferocidade, por supostos motivos, encobrindo uma disputa pela companhia de um homem, o fora-da-lei Dancin' Kid, vivido por Scott Brady. Como se vê, o tema e a própria história colocam a mulher em uma posição social vanguardista para a época, em uma sociedade que era essencialmente conservadora e puritana, e que deixou alguma saudade. A influência deste afetado filme se estendeu por nomes como Samuel Fuller, Sergio Leone, ou mesmo um Almodóvar.

4. The Searchers (Rastros de Ódio): É considerado por muitos, críticos ou cinéfilos, o maior western de todos os tempos. Figura em primeiro na lista do American Film Institute, e na votação popular do IMDB, que não é das mais seguras, aparece, no momento desta publicação, apenas em décimo terceiro lugar. The Searchers é a história de uma obstinada, obcecada busca por uma garota branca raptada por índios. Ethan Edwards, vivido por John Wayne, atravessa vários anos, climas e ambientes hostis à procura de sua sobrinha, movido por um ódio selvagem para com aqueles que assim considera. É um filme brilhante, sem dúvida, em que se tem a infalível reunião de Ford, Wayne e Monument Valley. Embora preserve elementos típicos de um western clássico, utilizados na fórmula da primeira metade do século, The Searchers apresenta um protagonista extremamente complexo tanto do ponto de vista psicológico quanto de uma ótica social, o que o enquadra na tendência em voga na década.

Gregory Peck em The bravados
5. The Bravados/1958 (Estigma da Crueldade): Depois do muito bem realizado The Gunfighter, Henry King realizou em 58 este outro bom Western psicológico que conta a história da vingança irracional de Jim Douglas (Gregory Peck). A personagem de Peck funciona como uma espécie de alegoria do Macarthismo, em sua caçada cega e sem critérios.



6. Rio Bravo (Onde Começa o Inferno): dos doze westerns de Howard Hawks este é geralmente apontado como o melhor. O outro western de Hawks que vejo rivalizar com ele é Red River/1948 (Rio Vermelho), também protagonizado por John Wayne. Assim como este último, Rio Bravo é um western puro, praticamente alheio às inovações da década. Prenuncia, em alguma medida, aspectos do western crepuscular, que viria a surgir nos anos seguintes. Seus protagonistas são, de certa forma, decadentes ou incapacitados física e mentalmente para corresponder às duras exigências do ofício. É um western que rivaliza diretamente com High Noon, uma espécie de releitura das concepções encampadas por aquele.  Rio Bravo mostra a comunidade positivamente, disposta a enfrentar as adversidades, a despeito de suas limitações.

Henry Fonda e Anthony Quinn tomando conta de Warlock
7. Warlock/1959 (Minha Vontade é a Lei): Dirigido por Edward Dmytryk, Warlock é um western muito bom, com roteiro e execução primorosos (embora muitos não concordem). Mais um western considerável impuro, nos termos técnicos que definem o gênero, abordando com sutileza a temática da homossexualidade. Henry Fonda mais uma vez está soberbo interpretando Clay Blaisedell, um homem “da lei” que age como um verdadeiro justiceiro, numa adaptação da lenda de Wyatt Earp. Em suma, é um grande filme pouco valorizado, provavelmente, por razões externas e não relacionadas a seu mérito. Mais uma vez no Brasil se oferece apenas uma edição ridícula em DVD, que sequer preserva o CinemaScope original. Seus personagens amorais serviriam de inspiração para o western europeu poucos anos adiante.

8. Vera Cruz/1954: Este western de Aldrich se destaca no período por seu tom cínico e amoral. Conta a história de mercenários americanos que tentam ganhar dinheiro participando da revolução no México. É um filme que tem ação frenética e recorre a altas doses de violência, prenunciando o western europeu que se avizinhava. As personagens de Leone, por exemplo, se identificam com Joe Erin (Burt Lancaster), em sua capacidade para artimanhas de todo tipo. A “invasão palaciana” pelo grupo de brutamontes é apenas um dos vários momentos antológicos do filme. Normalmente não é lembrado como merece, mas sua contribuição foi muito relevante, como se vê, abrindo as portas para um novo tipo de western, que sai da abordagem propositiva rumo a uma abordagem descritiva.

Earl Holliman passando o maior aperto com Kirk Douglas
Há muitos filmes desse período que merecem ser vistos, analisados. Infelizmente, isso é apenas um minúsculo resumo e a imensa maioria ficará mesmo de fora. Mas vão aqui algumas sugestões complementares: de Roy Huggins, Hangman’s Knott/1952 (O laço do Carrasco); de Delmer Daves, Broken Arrow/1950 (Flechas de Fogo), Jubal/1956 (Ao Despertar da Paixão), The Hanging Tree/1959 (A Árvore dos Enforcados); de William Willer, The Big Country/1958 (Da terra nascem os homens); de Anthony Mann, The Tin Star/1957 (O Homem dos Olhos Frios), Man of the West/1958 (O homem do Oeste); de John Sturges, Backlash/1956 (Punido pelo próprio sangue), The Last Train from Gun Hill (Duelo de Titãs); de Andre de Toth, Day of the Outlaw/1959 (A Quadrilha maldita), Man in the Saddle/1951 (Terra do Inferno); de Arthur Penn, The Left Handed Gun/1958 (Um de Nós Morrerá); de King Vidor Man Without a Star/1955 (Homem sem Rumo); de Fritz Lang, Rancho Notorious/1952 (O diabo feito mulher); de Budd Boetticher, Seven Men from Now/1956 (Sete Homens sem Destino), Ride Lonesome/1959 (O homem que luta só).

Bueno, muchachos... fazemos agora uma pausa, já lembrando que no próximo trecho de nossa breve história do western falaremos dos anos sessenta, com algum relevo para o western produzido na Europa. Obrigado pela companhia e um grande abraço!






Vídeo com imagens de westerns dos anos 50:



11 Comentários
Comentários

11 comentários:

Darci Fonseca disse...

Olá LeMarc
Esplêndida pequena história recente do gênero western. Boas as lembranças de Pacto de Justiça (Open Range) e principalmente de Lonesome Dove (Pistoleiros do Oeste), este último lamentavelmente lançado no Brasil com três horas de duração mas que deve ser visto com as seis horas com que a série foi exibida.
Discute-se muito qual o melhor Anthony Mann-James Stewart e para mim não há dúvidas que é O Preço de um Homem (The Naked Spurs).
Lembro que Rastros de Ódio (The Searchers) foi também o primeiro colocado na enquete feita em 2011 pelo blog Westerncinemania que contou com a participação de 133 cinéfilos fãs de faroestes.
Grande abraço - Darci Fonseca

Vinícius Lemarc disse...

Darci,

Eu até relutei um pouco quanto a fazer referências a filmes e acontecimentos que extrapolavam um pouco os anos 50, buscando sair de um certo aprisionamento, mas agora, vendo seu comentário, percebo que foram mais felizes e chamaram mais atenção as referencias que fiz aos filmes e períodos de que ainda irei falar do que aos da década em questão. Mas isso acontece com todo aprendiz. Open Range e Lonesome Dove são fabulosos. Lonesome Dove não merecia aquela edição medíocre que fizeram no Brasil. Tomara que criem vergonha e lancem um Bluray com imagem e duração preservadas. Vi uma vez apenas The Naked Spur e tenciono rever, mas como disse, pelo menos por enquanto, ainda prefiro Winchester 73. Boa defesa de Rastros de Ódio. São 133 votos de especialistas. Revi Rastros de Ódio dia desses e realmente é um filme extraordinário. Merece todo esse apreço.

Grande abraço!

Lemarc

José Fernandes de Campos disse...

Parabens. Excelente artigo. Não poderia esperar coisa ruim de você pelo que li nosw seus comentários no blog do Darci. Pistoleiros do Oeste foi uma bela serie mas como já disse anteriormente Tanto Naked Spur e Winchester 73 são westerns fracos. Até de repente.

Vinícius Lemarc disse...

Olá, José Fernandes, quão honrosa visita no Sarrabulhada Cult!
Entre os dois Stewart/Mann que você cita, prefiro Winchester 73, diferentemente, do Darci, que, acima, diz preferir The Naked Spur, e de você, que não gosta de nenhum dos dois. Pistoleiros do Oeste é uma série das minhas preferidas, sobretudo a primeira parte, com o Robert Duvall.
Sinta-se à vontade para opinar e participar no material western e demais publicações do SC.

Um forte abraço!

Vinícius Lemarc

José Fernandes de Campos disse...

Cáspite. Estou lendo mais uma vez este artigo e não me canso de le-lo. Já recomendei seu blog para vários amigos meus e sei que eles leem mas são covardes para dar opinião. Eles só dão no blog do Darci, pois me massacram. PARABENS pelo artigo das manifestações. Aqui no Rio o couro está comendo. Prefeito e governador sãp muito fracos. Não pensam no povo. Continuo seu fã e lendo seu blog. Até derepente.

Vinícius Lemarc disse...

Salve, José Fernandes!

Muito obrigado pelo incentivo. De fato, uma quantidade razoável de pessoas lê o SC diariamente, embora não se manifeste muito; mas é preciso postar mais também.
No primeiro semestre não deu para postar muita coisa e espero poder neste segundo dar uma normalizada nisso, especialmente nas postagens sobre western, que estão começadas e falta só eu pegar pra concluir. Você sabe, eu também sou um grande apaixonado por esses filmes e é uma das postagens que eu mais gosto de fazer. Estou sentindo falta. A próxima postagem provavelmente já será a sequência desta.
Sobre a política... estamos na luta por um país melhor. Não vai ser fácil, mas juntos isso fica menos distante.
Forte abraço!

Vinícius Lemarc

JOSE FERNANDES DE CAMPOS disse...

Voc~e precisa escrever mais sobre cinema. Tenho lido e não tenho tido muito interesse. Escreva mais sobre cinema. Se tiver escrito diga onde está pois não acho. Um fraterno abraço. Mande a resposta para jfcampos@yahoo.com.br.

Vinícius Lemarc disse...

Caro José Fernandes, vamos ver o que podemos fazer para remediar isso.
Um abraço!

Jose Fernandes de Campos disse...

Companheiro. Acho muito complicado seu blog. É muito dificil para mim achar os assuntos que eu gosto. Escreva mais sobre cinema e abra um icone especifico para CINEMA. Leio toda a semana mas tem assunto que eu particularmente nção aprecio. Abraços do seu fã.Escreva sobre cinema, vc sabe muito.

José Fernandes de \Campos disse...

Escreva sobre cinema. Deixei de ler O blogt do Darcy pois são sempre os mesmos que escrevem. Acham tudo bom, não reclamam de nada e acham tudo perfeito. Gostaria que vc. Escrevesse sobre um assunto que nsei que você é bom. Não importa que vc. Goste donfaroeste italiano. Escreva mais artigos cinematograficos. Não adianta reclamar, pois nada neste pais vai melhorar.Um abraço

Vinícius Lemarc disse...

Caro José Fernandes, darei mais atenção ao tema. O Darci e o Edelzio fazem um grande trabalho sobre o gênero, cada um a seu modo, diminuindo um pouco nossa obrigação.
Abraço!

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