Dando continuidade a nossas postagens voltadas para estudantes e vestibulandos, após um largo intervalo, iremos discutir um pouco sobre pequenas curiosidades da produção textual. Embora se aplique a todas as situações de uso da língua portuguesa, nossa discussão se preocupa mais de perto com a produção escrita. Dessa vez, falaremos de uma pequena dúvida, que, embora pareça muito simples, sempre vê muita gente cometendo enganos em sua aplicação. Trata-se do uso de onde, aonde e donde. Depois de explicadas as diferenças básicas entre as três formas, ofereceremos um quiz, em que você poderá testar o seu nível de acerto no uso das palavrinhas citadas. Vamos lá!
ONDE: em termos formais, essa palavrinha, tradicionalmente, é classificada como advérbio de lugar, advérbio interrogativo, ou pronome relativo.
Vejamos um exemplo de cada:
Onde eu moro não mora ninguém. (advérbio de lugar)
Note que nessa frase onde indica lugar, e se liga pelo sentido ao verbo morar, “morar onde”
(esse tipo de caso é bastante discutido pelos gramáticos, mas iremos nos abster de fazer essa discussão, em vista do nosso objetivo);
Onde você mora? (advérbio interrogativo)
Nesse outro caso, podemos dizer complementarmente que onde é usado com uma função interrogativa, para perguntar;
Moro na cidade onde o sol brilha mais. (pronome relativo)
Aqui, onde se relaciona com os verbos da frase, mas neste caso retoma a expressão na cidade, justificando, portanto, sua definição como relativo; se você destacar apenas a oração “onde o sol brilha mais” verá claramente que o onde pode ser trocado por na cidade;
Independente da classificação, nos três casos onde faz referência a lugar. Ou seja, em qualquer situação, esse é sempre o seu sentido básico.
AONDE: com relação a essa palavra, podemos dizer que a diferença que ela apresenta, se cotejada com o caso anterior, é o fato de receber o acréscimo da preposição a. Esse a é oriundo da transitividade dos verbos com que a palavra onde se relaciona. Sempre são verbos que indicam movimento, deslocamento de um lugar no espaço para outro, como ir, dirigir-se, chegar, etc.
Ex.: Retornou aonde não havia ninguém.
Suponhamos que alguém se deslocou para um passeio na praia e posteriormente um colega lhe pergunta o seguinte:
a- Onde você foi?
Ou
b- Aonde você foi?
Intuitivamente, você saberá que as respostas a cada pergunta serão diferentes.
Para a pergunta a, você poderia responder “Fui no assento do cobrador ”;
Já para a pergunta b caberia a resposta “Fui a Jericoacoara”.
Embora em todos os casos haja referência a lugar, apenas na segunda frase cabe um esclarecimento sobre o destino da viagem. No primeiro caso, o esclarecimento requisitado é quanto ao local em que a pessoa se acomodou durante o deslocamento até Jericoacoara, no caso, o “assento do cobrador”. Um efeito de sentido também possível aí é o da superlotação do veículo.
A única diferença formal entre as duas frases é o acréscimo do a na segunda frase, o que nos leva a concluir que não é totalmente seguro nos guiar pelo verbo em questão e sua transitividade, visto que nesses casos o verbo é sempre o mesmo: foi (ir). Isso ocorre porque um mesmo verbo pode aceitar vários complementos diferentes.
DONDE: Esse caso é semelhante ao anterior, com a diferença de que em vez de haver apenas uma combinação da preposição de com onde, ocorre uma contração, com a queda do e átono da preposição, resultando na forma donde. Também faz referência básica a deslocamento no espaço, mas indicando procedência.
Ex.: Donde você vem?
Desmembrando, teríamos “de onde você vem?”
Um uso muito comum e pouco apropriado é o da forma onde sem referência a lugar, o que em qualquer circunstância deve ser o seu uso normal.
Ex.: *Onde se conclui...
*No exato instante onde todos se aglomeravam, ouvi o barulho.
Esse tipo de uso deve ser evitado.
p.s: advertimos que essas orientações também se aplicam à linguagem figurativa, mas esse terreno é bastante complexo e não faremos, a respeito, maiores esclarecimentos.