20 de fevereiro de 2021

Guerra dos Sexos

 

Sempre houve tensões entre homens e mulheres, assim como entre todas as vidas que habitam o planeta. Organismos, plantas, animais sempre interagiram, complementando-se ou competindo ferozmente. Alguma ebulição sempre foi necessária; seja na melodia que brota entre sons harmônicos e rangidos, seja entre as cores, que proíbem o mundo da monotonia de um único tom, e que, contrapondo-se em orgânica diversidade sobre uma campina, ou sobre as folhas e pétalas de cada sol e de cada estação, criam magníficos afrescos naturais, integrando-se e afirmando-se a si e a seus parceiros de criação. Essa é a sinfonia e o mistério da vida. Uma beleza superior, mas, justo por isso, difícil de ser compreendida.

Assim, como resultado da frágil percepção dessa realidade, temos visto as relações entre homens e mulheres se deteriorarem, de tal modo que, se nada detiver a marcha da insensatez, talvez caminhemos para a efetivação da inacreditável e distópica guerra dos sexos, uma guerra total, que praticamente nenhum efeito benéfico trará a qualquer dos lados.

Deus, ou a natureza, como diria um panteísta, fez os animais, além de tudo quanto existe, de uma substância essencial a que o homem, somente quando tudo pronto, pôde então colocar as mãos. Portanto, a sabedoria superior, aquela que permite o fino equilíbrio entre tudo o que há, em tempo algum poderá ser subjugada. A lei universal é indomável. Não pode severamente ser controlada. Alguém poderia odiar um vulcão que expele larva em chamas, mas talvez não saiba que sem ele o mundo provavelmente sucumbiria. Ou talvez possa detestar a existência do dia e da noite, mas deveria saber que sem isso teríamos uma unicidade morta. Tudo o que existe, até certos fragmentos do flagelo humano, tem uma razão, por mais assombroso que a nós isso possa parecer. É graças a nosso apego e ao crescente desejo de segurança que ignoramos isso, e a cada dia somos pessoas mais inconstantes e indecisas, mais raquíticas diante da grandeza do mundo e do mistério da existência.

A destruição física e mental que hoje vemos ocorrer entre homens e mulheres evidencia isso. Acusam-se do infortúnio um do outro. Desejam distância entre si e já não suportam a vida em comum, aquela que outrora foi mais madura e desejada. Competem por espaço social, econômico, e caminham, quando muito, para tirar proveito um do outro em relações meramente ocasionais, livres de apreço, compromisso ou respeito. Homens e mulheres detestam, cada dia mais, vínculos, responsabilidades mútuas, e cada um vai sendo infeliz a seu modo, sozinho, mergulhado em mágoas, dúvidas e frustrações. Assim, desperdiçam parte irrecuperável dos dias, e toda uma vida baseada no crescimento e no amor, em cuja união se funda um projeto virtuoso de vida. O problema é que hoje se espera que esse projeto seja perfeito, sem angústias, sem perdas, sem desafios, e tendo como bússola o orgulho pessoal; uma expectativa em conflito com a vida superestimulada que a modernidade nos trouxe, repleta de inseguranças e baseada na imaturidade; assim, as uniões quase sempre fracassam. A modernidade, com suas máquinas e redes sociais, agravou o problema, insuflando nosso vazio existencial. Todos agora esperam pela promessa do mundo ideal, segundo sua concepção torta, esquecendo que, se não plantarmos as sementes certas e as quais conhecemos muito bem, semearemos um futuro incerto, talvez de muito caos e sofrimento.

O mundo é imperfeito, as pessoas não são boas como gostaríamos, e há, claro, coisas para melhorar, mas as limitações do homem, da ciência e da fé precisam ser compreendidas e reconhecidas. Tudo o que podemos fazer é limitado e, para ter chances de sucesso, deve estar em harmonia com as regras do universo e da vida. O tempo e o espaço são impiedosos, e sempre acabarão nos provando isso.

Portanto, homens e mulheres precisam antes começar a se amar, a se entender, e a compreender o quanto um é importante na vida do outro. São duas almas complementares; que não vivem em competição sem que se sintam infelizes. Ambos sempre serão diferentes e precisam aprender o respeito e a admiração mútua. Eis aí uma coisa importante: as pessoas admiram a grandeza das outras, seja um intelecto privilegiado, uma educação refinada, um olhar ou a beleza de gestos cativantes. Mas temos sido tragados por uma subcultura de massa, que nos desumaniza e torna seres espiritualmente rebaixados. Um espírito criativo, capaz de divertir com bom gosto, de dizer coisas precisas e agradáveis, ou nem sempre, é uma alma de inestimável valor, desde que dentro de uma cultura de altivez e dignidade. É preciso ser sóbrio na essência; mas criança quando necessário, espirituoso para agradar a quem se ama, gentil e educado para cativar os corações; virtuoso de modo a que, sempre que se saia um pouco, não demorem a dar pela falta, não tardem a sentir saudades.

Infelizmente, os crescentes coletivos machistas e feministas têm ajudado a aprofundar o abismo. Homens e mulheres devem viver em sintonia: cuidar um do outro, fazer as coisas em acordo e resolvê-las segundo as habilidades de cada um. Não há problema em dizer-se que o homem tira a lenha e a mulher acende o fogo. Para completar, sempre é bom ter um papo gostoso, ler bons livros juntos, desfrutar a intimidade e a sensualidade intensa dos corpos, usufruir as tarefas e o lazer comum, e, finalmente, cultivar a boa índole e a boa educação dos filhos, sendo essa a sua suprema tarefa. Esses viventes só se realizam quando alcançam esse maravilhoso equilíbrio, como o equilíbrio do próprio mundo vagando no infinito. Todos podem ser felizes de diversas formas, mas os céus se exultam, não porque qualquer homem assim o queira, mas segundo a própria natureza da vida, quando há o encontro iluminado de dois seres projetados para se completar: o homem e a mulher.



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