3 de junho de 2019

47º Ramrod (Fúria Abrasadora) - 1947

 

Ramrod é um belo western sobre ódio e vingança. Neste caso, um ódio que emerge em três camadas: primeiro, e mais importante, o ódio de uma mulher, Connie Dickason (Veronica Lake), contra o próprio pai e contra o perverso e poderoso “dono do lugar”, Frank Ivey (Preston Foster), que é aliado de seu genitor e seu pretendente, e não impõe limites a sua ânsia de dominação; segundo, o ódio de Dave Nash (Joel McCrea), que fora escorraçado da cidade por Frank, quando se encontrava debilitado por problemas com a bebida; e, terceiro, da própria comunidade – relatada a partir da astuta figura de Bill Schell (Don DeFore) - que já não mais suporta os desmandos de seu algoz e mais desagradável cidadão.


A história se inicia com a agressiva expulsão do noivo de Connie, Walt Shipley (Ian McDonald) da cidade, por Frank e seu bando. Ao sair, Walt deixa o rancho Circle 66 para sua amada, que resolve iniciar sua vingança contra seus carrascos, a partir deste ponto. Em seguida, como a femme fatale, ela começa a jogar com os interesses, o orgulho e os sentimentos de todos, para alcançar seu intento, atropelando qualquer pudor ou senso moral possível. O que se segue é um espetáculo de intrigas, violência, e uma longa fila de cruzes, amainado, de outro lado, pelos bons sentimentos e a decência que se encontram ainda no xerife Jim Crew (Donald Crisp), em Dave, mas principalmente na adorável Rose Leland (Arleen Whelan), a costureira da cidade, e em quem Dave encontra refrigério e um refúgio agradável.
 

Sob a direção competente de Andre de Toth, tecnicamente, o filme é muito bem conduzido; sua fotografia noir, os atores, o roteiro, etc., todos funcionam a contento, considerando-se o conjunto. Entretanto, o que salta aos olhos mais atentos é a vivacidade do roteiro, baseado na obra de Luke Short. Além de contar (ou recontar) uma bela história, os roteiristas conseguiram elevar praticamente todos os personagens a um tipo de participação orgânica e relevante na trama. Os acontecimentos se sucedem com um vai e vem de personagens e acontecimentos intensos, sem invencionices desnecessárias ou participações decorativas. Um belo filme, que poderia sim ser maior, se ganhasse em dramaticidade, com o melhor desenvolvimento de alguns núcleos de personagens, como, por exemplo, o amor mal explicado entre Connie e Walt. Ademais, considerando a complexidade da história, que é levada a cabo em pouco mais de uma hora e meia, não há do que reclamar. O filme funciona, é bom e vale o ingresso.






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