11 de julho de 2015

A Hiena Bailarina e o Leão Trombudo

Nas savanas e bosques africanos, lar de muitos e perigosos animais, vivia um bando de hienas que, embora predador de pequenas presas, ou de animais jovens e indefesos, costumava acompanhar um grupo de leões, para aproveitar-lhes os restos das caçadas, que lhes ofertavam desde deliciosas impalas a pescoços fresquinhos de girafas e gnus.

Entre esses bandoleiros das estepes, havia uma jovem hiena cujos hábitos eram um tanto diferentes.

Ela guardava certo ar sensível e adorava saracotear para as colegas, divertindo-as muito.

Gostava de fazer uma espécie de dança, com movimentos para os lados, meneios de cabeça e bamboleios do murcho rabo; girava sobre os pés como um pião, e, ao andar, chegava mesmo a ser um pouco menos feia que as desajeitadas companheiras.

Quando o grupo parava para descansar, ela riscava o chão com as patas, e criava desenhos que encantavam a todas as hienas e, às vezes, um leão ou um cão selvagem que se aproximava.

Em sua jornada de sobrevivência, as hienas e os leões já se haviam tornado velhos conhecidos.

Mas, como nem tudo são flores, mesmo na sociedade dos bichos, sequer na sociedade das plantas, a hiena bailarina não simpatizava nada com um velho e carrancudo leão, a quem via sempre sério e de cara fechada, com jeito de quem não está para amigos.

Ele nunca ria de seus trejeitos, ficava sempre reservado, ao contrário de seus colegas, que se divertiam com o balé da hiena artista, perdida naquele cafundó.

Numa noite banhada por uma magnífica lua, enquanto os aventureiros procuravam alguma presa para devorar, a hiena bailarina, que tinha o hábito de se separar um pouco da matilha para explorar o mundo de modo especial, viu-se atacada impiedosamente por um grupo de hienas de outra família, que não gostava nem um pouco dos hábitos estranhos daquela criatura que difamava toda a espécie.

A pobre hiena até que tentou resistir ao ataque fratricida, encontrando em si forças que nem bem sabia.

Ao ouvir o murmurinho, algumas colegas de grupo até se aproximaram, mas nada fizeram para ajudar. Ficaram a assistir o alvoroço, imóveis, parecendo mesmo torcer pelo pior para a pobre vítima da emboscada.

Quando as forças da infausta carniceira já se esvaíam, eis que irrompe, em fúria assombrosa, por entre as folhagens, o leão rejeitado por ela, que, após violenta batalha, acaba por tirá-la bravamente das garras agressoras, salvando-lhe a vida.

Esbaforida e tentando retratar-se com o felino, a hiena agradece-lhe a atitude:

 Muito obrigada! O senhor me ganhou!

O leão, estoico e calmo na reação, explica, quebrando o costumeiro silêncio:

— Não era justo o que vi. Sua própria espécie lhe atacando. E tudo por não concordar com o modo como leva a própria vida! Era apenas isso.

E, dando-lhe as costas, se afasta lentamente.

Um pouco adiante, se vira e conclui:

— Até que não acho de todo mal as suas graças!

E desaparece entre os arbustos.

Moral: Não é a expressão que conta, mas, sim, os valores e os atos.


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