12 de fevereiro de 2014

Políticos, políticas e igualdades

Notas soltas...




Nem tudo é tão mau assim em que não se possa, com algum esforço, encontrar nesga de proveito. Por exemplo, o bom de a meio esquerda que hoje governa o país ter sido poder, situação, é que agora ela não vai mais poder vociferar contra certas práticas da pseudodireita brasiliana, como se ela própria fosse reserva nacional de honradez, de hombridade ou de sabedoria.

Poder até pode, mas, só lançando mão do mais apurado cinismo, nada difícil para políticos, sobretudo de esquerda. Sem usar da mínima desfaçatez, depois de se unir a partidos fisiologistas e às deploráveis raposas velhas da política brasileira, não é mais possível aos atuais donos do poder ficar acusando, presumidos, os adversários de malfeitores, desqualificando-os, afirmando que eles, se preciso, fazem aliança até com o coisa-ruim. O ouvido do povo ganha com isso.

Após engatar marcha na aceleração das privatizações, que vão de estradas a aeroportos e não poupam sequer o petróleo do pré-sal (o que os gestores procuram disfarçar, feito meretriz ainda encabulada do que faz, criando variações, “novos formatos”, nomes e “partilhas”), como não ser leviano ao acusar os outros de entreguistas, de vender patrimônio público para a iniciativa privada, ou melhor, de privatizar? Talvez esteja, a nova governança, finalmente aprendendo sobre a iniciativa privada e seu papel na economia e na sociedade.

Esse tipo de prática também nos refresca a memória para casos como a batalha da CPMF, que a esquerda opositora ao governo da época, sem dó, criticava, mas, depois, misteriosamente, e já manejando o leme, tentou mudar de provisória para definitiva. Uma vez perdida a tal receita, que oscilou próximo dos 0,30% para cada transação bancária, rápida e sorrateira colocou em seu lugar um IOF que pode chegar, em certos casos, a 1,5%. Já para o cartão internacional, mudou o tributo de 2,38% para 6,38%. Um apetite de leão perdido. A conclusão não pode ser outra se não a de que os mordazes críticos do imposto, ou eram irresponsáveis, e falsos nas intenções, ou não entendiam bulhufas do que criticavam.

E a retomada, às pressas, das altas da taxa básica de juros, para tentar evitar mais problemas na economia? Como recriminar ainda os governos ditos antagonistas de praticar taxas altas sem justificativa?

E depois de vermos os hospitais, as salas de aula, a infraestrutura, a segurança, o serviço público às traças, como dizer que os outros não têm competência para administrar?

Também, cada dia mais especializada em defender canalhas de toda espécie, com que tipo de cara a chusma gauche da vida, agora dirigente, poderá acusar alguém de proteger os seus próprios pelintras? Depois de se envolver em escândalos de corrupção, tráfico de influência, e após usar toda a força do poder para defender seus integrantes, insistindo numa desculpa de que a culpa é dos outros, que os corromperam, tal como a adolescentezinhos desinformados, com que cara acusar os outros de malvados? É, por aqui não há dúvida nem lado, os políticos, em geral, são farinha dos mesmos fornos, e as diferenças são pouco animadoras. Mais uma vez, os tímpanos agradecem.

Após usar a máquina para criar programas claramente eleitoreiros como o Mais Médicos, com a base formada por cubanos fustigados pela ditadura castrista, como acusar os outros de comprar votos? Ou, ainda, como criticar o trabalho escravo? Depois de inaugurar parceria e apoio nunca antes visto aos ditadores cruéis do mundo, será que, se outro presidente, de outro lado, se isso existe, o fizer, será processado por plágio? 

E depois de fazer casinhas de fôrma em programas habitacionais, tipo Minha Casa Minha Vida, como fazer a piada de que se o sujeito estiver bêbado entra na casa errada? Eram vulgaridades eleitoreiras mesmo, não intenção.

Em suma, será preciso fundar, no mínimo, um partido novinho em folha, para que se possam requentar e regurgitar essas mesmas contradições sobre adversários políticos. Brilhando! E sem políticos dissidentes de partidos que já tenham sido situação. Isso, claro, não fará com que esse opróbrio deixe de ser apenas oportunismo para fisgar o poder, pregando a já manjada conversa, de salvadores da humanidade (com mansões, mordomia e corrupção, claro).

Mas, também é preciso ressaltar, se alguém, de algum modo, se salvar dessa calamidade do descaramento que assola o país, desse o povo não vai querer nem ouvir falar. Um sujeito íntegro comum, que não aceite ser “fabricado” por espertalhões do marketing, não tem chances contra um larápio famoso ou produzido. E isso não é por maldade do povo, é incapacidade mesmo. A multidão, no máximo, critica A ou B, conforme as campanhas de internet, orquestradas pelos grandes partidos em twitter, facebook, etc., e continua firme, sempre votando no esperto mais conhecido, mais popular da cidade, da TV, no mandachuva da região, e, claro, quebrando a cara. Vide Tiriricas e Romários. É um exagero de endeusamento à celebridade que tira a razão.

Acredito mesmo que se Jesus descesse de fininho dos céus, se candidatasse, e fosse desconhecida sua identidade, podia fazer milagre que não ganhava nem para bate-pau. A grande massa povaréu entende de política e de gente só a casca; compreende pelo que lhes sugerem impressões, marqueteiros, fofoqueiros e a própria mediocridade; garantido mesmo, só de jogo e de novela (Não! Se entendesse, não jogaria tempo fora com isso); por isso, ela sempre tem o governo esculpido em sua fronte. Aí reclama.

Como já disse, o povo parece nem desconfiar, mas continua sem encontrar o seu messias na política. E, por estas bandas, acho ainda mais difícil do emissário da boa-nova dar as caras. Acresce que essa história de messias é ainda temerária na política. O melhor é, então, cada um principiar fazer algo por si e pelo país. É hora de iniciativa, porque, pelo visto, é certeza que político não faz: o poder serve para lhe servir.

Mas, para deixar claro que estou apenas falando de acontecimentos, penso que deve escapar qualquer coisa que seja também nessa gestão de meio-esquerda. Talvez, depois que o Fome Zero escafedeu-se, sem sequer pedir licença, a habitação e a loja de bolsas sejam das iniciativas que deixam algum saldo, embora pífio e muito pela culatra, se pensarmos maior. É preciso ser justo e dizer que, não creio tantas, como apregoado, mas algumas pessoas melhor intencionadas conseguiram fazer até bom uso da oportunidade. Acontece que esse é, se formos compreensivos, um grande erro estratégico. Infelizmente o país não tem magno projeto, somente iniciativas débeis e desarticulados, em contraste com um projeto ideológico muito mais delimitado; entretanto, é óbvio, como nunca, deu saliência aos menos favorecidos, embora tomando o atalho errado.

Digo isso porque gostaria muito de ver a elevação material e principalmente cultural desse país; mas, aviltando o povo simples mais e mais, comprando-lhe o voto e a dignidade, não posso concordar. Não gosto de ver aquelas mocinhas desconfiadas da gente nas filas de banco. Qualquer governo que faça isso com seus filhos, e pior, sob falso pretexto, não merece qualquer admiração. O desafio fundamental é, de certo modo, melhorar o povo, missão que a cada dia se torna mais difícil, em que pesem as práticas e o discurso dominante nos meandros de nossa sociedade.

É preciso alertar ainda que essa história, que volta e meia escutamos, de que não há mais esquerda e direita, é esperteza de político, conveniente para muita gente; políticos que não querem se comprometer e estrategistas ideológicos, que nos empurrarão as mesmas coisas que sempre desejaram, sem precisar colher os prejuízos de admitir ostensivamente.

Por fim, relembrando fatos e discursos, é impossível não pensar na máxima “criticar de fora, para qualquer pessoa, ou para qualquer oportunista, é fácil”, difícil é fazer diferente, negar, na prática, a prática do outro, e mais ainda, fazer melhor. A coalizão Barbicha Red Tie que comanda o país que o diga! Agora não restam dúvidas, quem é mais esclarecido reconhece essa velha e malfadada retórica e a nada nova prática.

Esperamos que os nossos políticos, em vez de insistirem na tática de criticar o espelho, se debrucem sobre a compreensão dos problemas brasileiros, e que os eleitores/cidadãos não deem mais ouvidos ao teatro das cafajestagens raivosas e oportunistas, venham de genuína ou de falsa direita ou esquerda, mas, sim, se afinem e fiquem atentos ao nível de domínio que os políticos têm do imbróglio nacional e a suas propostas, a ver se são boas, e, mais que tudo, sinceras.




1 Comentários
Comentários

Um comentário:

Waldemir Samuel disse...

Nobre Amigo, parabéns pelo memorável texto! Em tempo oportuno e de escolhas importantíssimas, nos leva à reflexão e a um despertar para o atual cenário político brasileiro. É notório que a estrutura dominante do poder político, historicamente montada, é tão perversa que conseguiu engessar algo que desperta para consciência critica e a mudança: a Educação. Assim, não permitindo uma reação, pois se os cidadãos compreendessem as intenções por trás dos discursos, possivelmente, quem hoje é líder nas pesquisas eleitorais, não seria.
Quando vamos conseguir lutar contra a inércia da obscuridade de pensamento, se a sociedade continua votando nos mesmos oportunistas que se mantém durante décadas no poder? Infelizmente, até quando chegamos à universidade, raramente, despertamos para uma consciência política além do senso comum. Quiçá mais cidadãos quisessem (pudessem) “acordar”, enxergar a verdadeira realidade por trás dos discursos políticos; descobririam seu valor, tamanho e o quanto são importantíssimos para mudanças que tanto almejamos. Obrigado!
Waldemir

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