5 de novembro de 2011

No capricho!

Este texto, na verdade, seria trecho de outro, anterior, mas, devido à reviravolta que o Enem teve, com seu vazamento, deixei-o para outro momento.

Conforme comentei em outro texto, o Enem tem como sua maior virtude a qualidade de suas questões, mas, ainda assim, precisa estar atento a casos como o que apresento adiante.

Como no texto a que me refiro, cujo entendimento a alguns é, por vezes, penoso, devido a sua forma sucinta e pouco didática, aqui me furtarei de entrar em detalhes intrincados. Não tenho esse tipo de objetivo aqui. Apenas desejo
discutir melhorias para os candidatos e para o exame em si. Se a sugestão for inútil, não pequei pela omissão. Irei apenas demonstrar que as questões precisam apontar para uma única resposta, de modo a perimir contestações, como as de cursinhos, algumas, inclusive, um pouco mais sérias.

A meu ver, felizmente, nas questões em que houve esse tipo de problema, a razão parece mesmo pender para o lado da resposta oficial, inclusive na que citarei, mas o permitir certo tipo de contestação já é algo realmente indesejado.

Portanto, as provas têm-se mostrado modernas, inteligentes e muito adequadas, mas apresentado pequenas falhas, que precisam ser corrigidas. Nada grave. Temos que dizer que é muito acerto e quase nenhum erro. Vejamos uma questão da prova, para exemplificar o que digo. Não se trata de erro grosseiro, apenas de uma formulação um pouco infeliz, que pode ser evitada em edições seguintes. O que demonstro visa apenas a buscar mais justiça para o candidato, que se preparou, e que tem no Enem, uma etapa importante de sua vida. Nada mais que isso.

A questão de que trato é a 111 (Caderno azul).


   Questão do enem

Tanto no gabarito oficial, quanto nas respostas sugeridas pelos cursinhos, a opção tida como correta é a letra A. Entretanto, não se pode assegurar que a resposta B seja um despropósito. Na verdade, é mesmo aceitável que o candidato escolha essa opção. Também creio que a opção A é mais adequada, e acredito inclusive, que até quem estava menos preparado provavelmente optou  por ela. Creio mesmo que a maioria deva ter optado por ela, mas não me parece muito justo que quem tenha marcado B perca a questão. De um ponto de vista formal, por exemplo, em um texto como esse, é bem difícil que se apontem com toda segurança as marcas que delimitem onde inicia a anedota, o causo, e começa a crônica.

Não irei entrar em discussão sobre a natureza dos gêneros aludidos, apenas deixo uma breve questão levantada. Utilizando de um rápido exemplo, demonstro o que digo.




   Texto de P.M.Campos

  Capa do livro


A questão crucial na sociedade é de legitimação. Obviamente, existem vários mecanismos para que isso ocorra.  Trocando em miúdos: a mesma coisa dita ou feita por pessoas diferentes é recebida de modo também diferente. No texto Continho, acima, retirado do livro de crônicas Para Gostar de ler – vol. 1, podemos verificar o quanto é imprecisa para muita gente a noção e o estatuto dos gêneros citados. Um texto com jeito de anedota, é colocado como crônica. Sem dúvida, esse texto do grande Paulo Mendes Campos é muito menos crônica que o de Rolando Boldrin, mas ninguém contesta . Eles podem. Têm know how para isso. Agora, o pobre candidato, com muito mais razão, não pode. Ele não é legitimado, neste sentido.

Ou seja, a situação é a seguinte: o autor chama o texto de conto (continho), este tem feição de piada, anedota, mas é publicado como crônica. Claro que não podemos ser demasiado exigentes, sobretudo com o título, que não é critério de classificação para nenhum texto, ou, pelo menos, não é o que se espera de um título. O candidato, como é quem tem que provar algo, que se vire. Se acertar, cumpriu apenas seu dever, se errar, assume o prejuízo.

Creio que uma questão como essa seja, no mínimo, uma escolha inábil, uma vez que mesmo os entendidos no assunto tem alguma dificuldade de diferenciar certos tipos de texto. Portanto, considerando-se a qualidade do ensino médio que essa garotada recebe, somada às condições de realização da prova, é fácil perceber que dificilmente conseguirão responder a questões assim com bom nível de segurança, inclusive aqueles que estudaram com afinco. É praticamente correr pro chute.


Para concluir, lembramos que, ao lado desses problemas, ainda resistem pequenas distorções a melhorar, neste âmbito:

1.    Incompatibilidade entre extensão e grau de dificuldade X  tempo de prova;
2.    Falta de controle do tempo durante a prova, pelo aluno;
3.    O uso de questões que não avaliam nada, além de certas imprecisões;

No tocante ao item 2, o aluno sai prejudicado por não poder administrar com qualidade seu tempo de prova. Muitos fiscais não informam a contento o tempo de prova, e mesmo que o façam não é a mesma coisa que o candidato fazer seu próprio controle. Para melhorar isso, talvez seja necessário pôr um ridículo relógio de parede em cada local de prova.

Mas compreendemos, em parte, o INEP. Preocupado e já assombrado pelos fantasmas dos problemas reiterados, se cerca de todas as cautelas. Realmente, em um país em que a regra dominante é trapacear, e até prejudicar o outro, a organização não pode cochilar. Tem gente que torce pelo insucesso, mistura política e pessoalidades com país. É uma pena. O fato é que candidatos podem perder o direito de ser avaliados com toda a justiça, e isso tem que ser a cada nova edição do exame, minorado.

Bem, agora, com a palavra, autoridades e entendidos, que esse assunto já está me enjoando.
Abraço!


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