28 de novembro de 2011

Conversando sobre Tropa de Elite 2



Antes de iniciar este breve texto sobre o badalado Tropa de Elite 2, fiz uma pequena pesquisa na internet para me certificar do tipo de acolhida recebida por ele, tanto pelo público em geral quanto pela crítica mais especializada. O que pude observar é que o longa foi bem recebido pela maioria e, embora haja aqui acolá uma referência menos favorável, desaparece encoberta por muitos elogios.


Fiz isso porque sei que minha posição vem de encontro à opinião geral quanto à qualidade cinematográfica de Tropa de Elite 2. Às vezes fico com a impressão, ou com a certeza, de que é mesmo muito fácil manipular o pensamento de outrem quando se usa dos mecanismos adequados com a habilidade requerida para tal. É maçante ver praticamente todo mundo repetindo que Tropa de Elite 2 é a obra-prima do cinema brasileiro moderno, ou ler por todo canto a já batida expressão “de efeito”: é um “soco no estômago”.


Aqui, porém, não irei detalhar os motivos de eu discordar dessa abordagem coxa e desvirtuada do valor estético do filme. Não quero isto uma resenha. Talvez eu a resolva fazer outro dia... quem sabe? Por ora, apenas quero chamar atenção para a irrefletida supervalorização, por ação imitativa, do filme. Registro isso certo de que o tempo se encarregará de pôr termo às coisas e provar que na verdade Tropa de Elite 2 enquanto filme, encarado como objeto artístico, é um grande fracasso. A arte se relaciona para fora para vir a ser, é indubitável, entretanto, os critérios que definem essa relação são escorregadios e, até certo ponto, incontornáveis totalmente. O mérito de Tropa de Elite 2 é falar com alguma propriedade, repito, alguma, sobre o tema da corrupção imanente no Estado Brasileiro. Um prato cheio para manipular a opinião da grande massa, ávida por catarse e pela voz, que lhe é afiançada pelo capitão Nascimento. Reside aí, sobretudo, o vínculo obra x realidade de que falamos. E os sagazes produtores souberam aproveitar a imensa depressão para promover o filme.

Mas, até certo ponto, compreendemos; “separar coisas” não parece tarefa fácil a ninguém. E isso explica tantos equívocos, a exorbitância dos erros crassos ou, noutra ponta, mais sutis, em tudo quanto é esfera da ação humana.

Uma coisa tenho de registrar. É que eu mesmo alimentei vãs esperanças de que Tropa de Elite 2 viria a ser o maior filme brasileiro já feito. Isso se explica pela expectativa que criei ao ver Tropa de Elite 1. Nunca achei certo que esse não tivesse sido indicado ao Oscar de filme estrangeiro. É que a crítica de esquerda desceu o pau, e com direito a quase nenhuma defesa, massacraram um dos maiores filmes feitos no país, esse sim. Torci, pois, por Tropa de Elite 1 e renovei a fé no segundo, mas, foi decepcionante. Talvez Padilha tenha feito tantas concessões interiores, para não ter que ouvir mais baboseiras, que desapegou-se do fogo criativo que o animava. Terrível! Não faça mais isso, nobre artista! Ninguém agrada a todos. Todos sabemos. Mantenha suas crenças e intacto seu talento. A longo prazo compensará muito mais.

Apesar de já ter mostrado competência, é inegável, porém, que faltou ao diretor algum talento na condução de vários aspectos da película. Mas estou certo que ele pode fazer coisas extraordinárias. Pelo menos, ficamos na torcida.

Bem, é isso: enquanto obra cinematográfica, Tropa de Elite 1 é várias vezes mais filme que Tropa de Elite 2. Não vou me acanhar, como muitos, de confessar isso aqui. É mera constatação, na verdade. Acusem-no de violento, fascista, do que quiserem, e ainda assim, continuará ele uma grande experiência cinematográfica. Um grande êxito do cinema nacional. Cinema com invulgar maturidade técnica e artística, pouco peculiar a nossa tão inconstante produção cinematográfica.

Um filme que vejo rivalizar com Tropa de Elite 1, e que deixa no chinelo Tropa de Elite 2 é Cidade de Deus, do diretor Fernando Meirelles. Esse é outro grande êxito do nosso cinema, embora tenha a cena final mal executada, mas, ainda assim, pensada como só grandes cineastas podem fazê-lo.

Sempre torcemos para que os brasileiros faturassem o Oscar. Sabe, um dos principais prêmios oferecidos por aqueles caras capitalistas, responsáveis pelos males do universo, mas que, curiosamente, muitos dos seus críticos gostariam de ser, ou de estar no lugar? Pois é, sem conversa mole de esquerda sem-noção, será legal ver o Brasil vencer o Oscar, mas, com um Tropa de Elite 2, só mesmo seguindo a tendência atual no mundo desenvolvido de enxergar, por necessidade estratégica, o nosso país. Acho que a hora de vencer o Oscar se aproxima, mas com Tropa de Elite 2 só mesmo forçando a barra. Ou então tendo adversários ainda mais pífios. A propósito, gostaria de ver pelo menos Aballay, dos hermanos argentinos, que, vejam só, por ser um western moderno, pode cair no gosto dos americanos. E quando é western, eu só me divirto vendo. Deixo esse papo de “crítico” pra lá, quase sempre.

Quanto às deficiências de Tropa de Elite 2, podemos apontar, por exemplo, essa, que não é a única, nem a maior da película, apenas com o intuito de materializar um pouco do que me faz discordar da opinião generalizada de que se trata de um grande filme: entre outros problemas, Tropa de Elite 2 tem o irritante defeito de ser demasiado didático na exposição. Há quem diga que não, mas tenho que discordar. Diria, para ser mais preciso que Tropa de Elite 2 é um filme maldisfarçadamente didático.

De qualquer modo, não vamos ficar na cômoda posição medíocre dos jogadores de pedras. Parabenizamos O Zé Padilha pelo que tem feito pelo cinema brasileiro e torcemos para que ele nos ofereça ainda muita coisa boa. Que tal aventurar-se por outros temas, fugir um pouco mais, em seus grandes projetos, da marcada realidade carioca, a encontrar Brasil afora maravilhosas histórias que ainda precisam ser contadas? Fica aqui nosso registro e nossa torcida pelo cinema brasileiro, que ainda precisa de muito incentivo para crescer de verdade. Quando discutimos, mesmo com toda a concisão e exclusão que usamos neste texto, não temos outro objetivo, senão o de amadurecer as ideias sobre nosso cinema e contribuir modestamente para seu crescimento.








1 Comentários
Comentários

Um comentário:

Vinícius Lemarc disse...

Soube há pouco que Tropa de Elite 2 acaba de ser exluido da luta pelo oscar, continuando outros 9 filmes na disputa. Como disse acima, era previsível. Enquanto continuarmos achando que filmes como Tropa 2 são superiores a Tropa 1 ou que Central do Brasil é superior a filmes como A vida é bela, pouco vai mudar nessa área.
A torcida é agora para o outro ano, e que se escolha com menos política e mais talento.

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