31 de agosto de 2010

O Filme Western – Parte 1


Desde a invenção do cinetoscópio e do cinematógrafo, por Thomas Edison e pelos Irmãos Lúmière, respectivamente, até nossos dias, o western surgiu como um dos mais importantes gêneros cinematográficos mundiais, se definiu como estilo, alcançou o seu ápice e, depois, praticamente desapareceu. Nessa trajetória, obteve sucesso tal, que tornou-se quiçá o maior responsável, em se tratando de gênero fílmico, pela consolidação da indústria do cinema norte-americano, levando este a ser um dos principais produtos de consumo, de exportação e de propaganda daquele país, e à sua consequente hegemonia.

Sem dúvida, o western sempre foi um gênero extremamente popular, de massa, mas, a despeito disso, produziu peças belíssimas, que entraram para a história do cinema mundial, além de, considerado em seu conjunto, gozar de uma delimitação tão perfeita, como quase nenhum outro gênero cinematográfico jamais alcançou.
Esse gênero constituiu-se no estilo mais marcadamente americano, e criou uma verdadeira mitologia acerca da epopeia daquele povo na construção de sua nação.

O período em que esses “grandes feitos” aconteceram, ou, como se diz, o Velho Oeste, corresponde, em termos temporais, ao século XIX, e, em termos espaciais, à grande faixa de terra ao ocidente, desde o Mississipi, rumo ao Pacífico. Entretanto, suas histórias foram espichadas para muito além desse período e localização, principalmente se considerarmos as produções western mundo afora, em países como a Itália, a Alemanha e até a antiga União Soviética. De fato, o Velho Oeste pode ser entendido como um lugar mítico, atemporal, onde as forças atuantes nem sempre se encaixam perfeitamente nas leis do mundo real.

Entre tantas honras que lhe cabem, ao western cabe a lisonja de ter o primeiro filme criado, em que se inauguram técnicas até hoje utilizadas no cinema. Trata-se do pequeno western mudo “The Great Train Robbery” (O grande roubo do trem/1903) de Edwin S. Porter, com duração de aproximadamente 10 minutos (abaixo, trecho do filme no youtube). Outro feito digno de nota é o fato de o western ter ousado colocar, em uma época pouco acostumada a certas excentricidades, a mulher em papel de destaque, vestida de calças compridas, abordando a sexualidade feminina, a prever uma época que se aproximava. Falamos do western barroco Johnny Guitar, de Nicholas Ray, 1954, estrelado por Joan Crawford.

Assim, começamos a entender que o western não é um gênero menor, ou trash, como insidiosamente dizem alguns, sem o necessário embasamento.

Consideremos, por exemplo, o termo “clássico”. Para muita gente essa expressão é sinônimo de qualidade. Informamos tratar-se o western de um gênero Clássico do cinema norte-americano, abrangendo vários subgêneros como o estilo Clássico propriamente dito, o Superwestern, e o Novo Western. Deste modo, o western coloca-se pari passu com gêneros como o Film Noir americano, o Neo-Realismo italiano, a Nouvelle Vague francesa, ou mesmo o Cinema Novo brasileiro, embora tenha conseguido façanhas que esses gêneros magníficos só conseguiriam enxergar com o auxílio de uma poderosa lente telescópica, e se a poeira deixada pela diligência do western permitisse, claro.

Como sugeri acima, não chega a ser um exagero dizer que, assim como alguns povos antigos tinham sua mitologia - com seus heróis e feitos – os americanos forjaram a sua, através das histórias, acontecimentos e lendas do período que remonta o Velho Oeste americano, principalmente por meio do cinema, sua maior fonte de contato rápido com outros povos. Heróis e bandidos, quase sempre idealizados, surgem como verdadeiros mitos americanos, dos quais podemos citar Buffalo Bill, Wyatt Earp, Jesse James, Wild Bill Hickock, Billy the Kid e tantos outros. Na criação desse universo são retratadas figuras de toda ordem que habitaram aquela época e que participaram ativamente daquele importante momento histórico, como cowboys, índios, mexicanos, chineses, negros, e outros, praticamente personificados, como as ferrovias, os cavalos e, claro, as armas de fogo. Há, ainda, personagens importantes da vida pública como o xerife, os políticos e o exército americano, que começava ali a mudar a forma como os homens guerreavam. Vê-se aí que, além do seu valor artístico, o western tem grande valor histórico, por oferecer um belo panorama do modo de vida vigente naquelas pradarias, apesar dos falseamentos constantes de qualquer mitologia.

Chegamos, assim, ao final da primeira parte do nosso texto. Buscamos, nesta rápida introdução, falar um pouco da relevância e da qualidade do gênero western. Não queremos com isso sugerir que não haja nele maus filmes. Isso acontece invariavelmente com todos os gêneros, novos e velhos, e não seria diferente num gênero eminentemente popular e produzido tão largamente, muitas vezes, em precárias condições materiais, intelectuais, e de modo oportunista. Mas também não faz sentido se achar, por puro preconceito, portanto, irracionalmente, que um filme western não pode ser melhor, e muito melhor inclusive, que um filme, por exemplo, de autor, sem grandes pretensões comerciais. Esse é um tipo de entendimento que temos de superar.

Continue nos acompanhando nesta caravana, que ainda há muitos territórios a desbravar. Abraço!






Johnny Guitar
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